
Chico Xavier psicografava na casa de Rômulo
Joviano,
às quartas-feiras, nos anos 1930 e posteriores
Com a pandemia e as políticas
de isolamento social vieram novos desafios para as sociedades espíritas.
O desafio central é: como funcionar com os cuidados para que
não haja contágio? Uma das formas de adaptação
que mais se desenvolveu foram as reuniões através da
internet, nas quais cada um se mantém em sua residência,
mas consegue interagir com os demais.
Talvez o maior desafio tenha sido
as reuniões mediúnicas. Há muitos anos, no Brasil,
os grupos deixaram de ser familiares, criaram “centros espíritas”
ou “sedes de sociedades espíritas” para seu funcionamento
e vêm praticando a mediunidade de forma coletiva (em grupos)
nos centros espíritas. Obviamente, isso não acontecia
em épocas e em países onde não há uma
rede de centros espíritas.
Em “O Livro dos Médiuns”,
no capítulo XVII da segunda parte (Da formação
dos médiuns), Kardec sugere à pessoa que esteja desenvolvendo
a psicografia, que o faça em solidão, silêncio
e afastamento de tudo o que possa ser causa de distração.
E sugere que renove “todos os dias” a tentativa, por dez
minutos ou um quarto de hora, por meses. Em outras palavras, ele recomenda
que os que desejam verificar se têm a capacidade da psicografia
que façam esse exercício de forma particular, se necessário
em casa. (segunda parte, capítulo XVII, §204)
Isso não significa que Kardec
não observasse vantagens no trabalho mediúnico em grupo
ou equipe. Ao falar da reunião de pessoas com o objetivo de
desenvolver a mediunidade, ele argumenta que ao se reunir com um intento
comum, os membros “formam um todo coletivo, cuja força
e sensibilidade se encontram acrescidas por uma espécie de
influência magnética, que auxilia o desenvolvimento da
faculdade.” (segunda parte, capítulo XVII, §207)
Na história do espiritismo
brasileiro, podemos registrar a existência de reuniões
familiares nas quais um médium psicógrafo permitia a
comunicação de um espírito familiar ou um espírito
superior. Talvez, o maior registro impresso que tenhamos na atualidade,
seja o livro “Sementeira de Luz”, todo psicografado por
Chico Xavier nas reuniões de evangelho no lar da residência
dos Joviano. Wanda Amorim Joviano guardou as mensagens que foram psicografadas
na casa de seu pai desde os anos 1930, semanalmente, às quartas-feiras.
Trata-se de um livro de 669 páginas, em sua grande maioria
ditadas por Arthur Joviano, avô de Wanda, já desencarnado.
Divaldo Franco, no livro “Diretrizes
de Segurança” (questão 47), que foi fruto de um
simpósio realizado em Belo Horizonte em conjunto com Raul Teixeira,
desaconselha a prática mediúnica como hábito
em reuniões domiciliares, mas “não impede que,
excepcionalmente, ocorra o fenômeno com a anuência de
um médium sob a inspiração dos bons espíritos”.
Em outras palavras, ele limita essa prática, mas não
a proíbe. Na questão 48, ele recomenda de forma contundente
que se realizem as reuniões mediúnicas nos centros espíritas,
comparando-o a um centro cirúrgico e perguntando de forma retórica:
“Já que temos o Centro, por que desrespeitá-lo,
fazendo reuniões mediúnicas noutro lugar, se ele é
o determinado para tal?”
Considerando todas essas informações,
entendemos que no momento, e não sabemos até quando,
a reunião mediúnica presencial nos centros espíritas
se encontra interditada por razão de saúde pública,
mas isso não significa que não possamos psicografar,
durante as reuniões que se fazem através da internet,
na qual se encontra reunido o grupo, comunicações de
espíritos orientadores ou familiares. Em nossa experiência,
a maioria dos médiuns psicógrafos dos centros que conhecemos
é intuitivo, não havendo automatismos. Não vemos
consequências mais graves para esse conjunto de fatores: médium
intuitivo psicografando espíritos familiares ou superiores,
em encontro à distância com os demais membros de reunião
mediúnica. Neste caso, a interrupção
pelo médium de uma comunicação.
Com esses cuidados, é aceitável que se mantenha a prática
da psicografia de espíritos benfeitores ou familiares nas reuniões
mediúnicas à distância, além das preces,
dos estudos e das chamadas “irradiações”,
que não são senão uma prece dirigida a um ou
mais beneficiários. Temos obtido bons resultados em nosso grupo,
sem incidentes dignos de registro até o momento.