
Hospedaria de Imigrantes de Ilha das Flores,
local em que o pai de Carlos Imbassahy foi trabalhar quando mudou-se
para o Rio de Janeiro
Após uma semana cheia de imprevistos, resolvi
aproveitar a tarde de sexta-feira para buscar uma passagem da
vida de Carlos Imbassahy que teima em permanecer na minha memória,
mas que não consigo encontrar nos muitos livros que tenho
dele e sobre ele. Como acho que ele está fazendo falta,
emocionei-me com uma das histórias guardadas e contadas
por seu filho, Carlos de Brito Imbassahy no seu “Memórias
Pitorescas de Meu Pai”.
Vou fazer perder o brilho porque terei que adaptar
o texto e mudar um pouco a linguagem para meus leitores, espero
que me perdoem.
Carlos Imbassahy estava no “Centro Espírita
Trabalhadores da Verdade”, no qual dirigia uma reunião
mediúnica par a par com Amaral Ornelas. Chegou-lhe uma
jovem, humilde, próximo da hora de começar, procurando
pelo “Seu Baçaí”. Sem saber explicar
quem a enviara e dizendo-se “média”, como bem
o diz o filho do orador espírita, foi convidada a sentar-se
à mesa dos trabalhos.
Feita a prece e após algum tempo, a jovem
Aurora entrou em transe e deu alguns recados de seu espírito
orientador. Passado mais algum tempo Imbassahy vê a médium
chorar e pensa tratar de um espírito sofredor. Iniciou
o diálogo, até ouvir:
“- Carleto! Tu não me reconheceste?”
Carleto era o apelido dado pelo maestro Antônio
Carlos Gomes, a quem Imbassahy admirava, que se tornou nome carinhoso
nas bocas dos familiares.
“- Sou tua avó, meu neto, Não
te lembras mais de quando tinhas quatro anos!?
Eu acariciava tua cabeça...” E falou,
falou as histórias que só ela e ele conheciam, do
tempo em que era muito pequenino e fora deixado pelo pai na Bahia,
até que ele pudesse se estabelecer profissionalmente. Carlos
Imbassahy era órfão de mãe, mas não
era órfão de família, e teve duas mães
na primeira infância, a tia e a avó, que agora voltava
da morte para lhe encher o coração de memórias.
“- Como eu chorei quando teu pai voltou
para te buscar...”
Com cerca de cinco anos, o pequeno Carleto foi
levado pelo Dr. Imbassahy para o Rio de Janeiro, sob protestos
da avó, que ora voltava a falar com o neto, fugida do mundo
das sombras, através da jovem Aurora, recém aparecida
no centro espírita.
“- Como sofri, Carleto! Não me conformava
com a separação: já me acostumara a afagar-te,
com carinho, a ver-te empurrar as cadeiras pela sala, brincando
de trem, a ouvir teu riso contagiante, a receber teu amor e carinho,
a retribuir teus abraços de criança ingênua...
Eras meu novo filho.”
A avó falou ainda da sua desencarnação,
que por pouco não foi precedida da visita do neto Carleto,
que tentou de toda forma encontra-la com vida. A avó, através
da médium, contou ainda da intuição que dera
à prima Quena, que recebeu Carlos Imbassahy e o consolou,
porque ele não se perdoava por haver demorado, embora não
fosse sua culpa. Mais e mais informações foram recebidas
por um estudioso atônito, que jamais esperara ter uma prova
tão emocionante da existência da faculdade mediúnica
ao alcance dos seus olhos e ouvidos.
Aurora saiu do transe sem recordar o que houvera
acontecido. Diz o autor que ela voltara a chamar seu pai de “Seu
Baçaí”.
Eu me recordei da história logo nas primeiras
linhas. Havia lido na juventude, antes dos dezoito anos, mercê
da biblioteca da Associação Espírita Célia
Xavier, e depois desse livro, nunca mais Carlos Imbasshy saiu
da minha memória.
Lamento muito não ter conhecido pessoalmente
seu filho, mas agradeço muito a ele todo o trabalho que
teve para preservar a memória de seu pai. Quando ele estiver
de volta ao mundo espiritual, poderá dizer ao Carleto,
que pelo menos um mineirinho de Belo Horizonte leu a história
de sua vida e se emocionou com ela.