O biólogo Ricardo Monezi, mestre
em fisiopatologia experimental pela Faculdade de Medicina da USP e
pesquisador da unidade de Medicina Comportamental da Unifesp, estudou
a fundo a técnica de imposição de mãos
[passe]. Lembramos que na atualidade o passe é empregado por
outras religiões, que o apresentam sob nomes e aparências
diversas (benção, unção, johrei, heiki,
benzedura), além do quê, pessoas sem qualquer relação
com movimentos religiosos também o empregam.
Para Monezi, os dados preliminares
apontam que a prática do passe gera mudanças fisiológicas
e psicológicas, como a diminuição da depressão,
da ansiedade e da tensão muscular, além do aumento do
bem-estar e da qualidade de vida. Ressaltamos que a Doutrina dos Espíritos
clarifica melhor e explica as funções do perispírito,
que “é o órgão sensitivo do Espírito,
por meio do qual este percebe coisas espirituais que escapam aos sentidos
corpóreos”(1), além
de o mesmo interagir de forma profunda com o corpo biológico,
razão pela qual as energias transmitidas pelo passe e recebidas
inicialmente pelos centros de força(2),
atingem o corpo físico através dos plexos (3),
proporcionando a renovação das células enfermas.
“Assim como a transfusão
de sangue representa uma renovação das forças
físicas, o passe é uma transfusão de energias
psíquicas, com a diferença de que os recursos orgânicos
(físicos) são retirados de um reservatório limitado,
e os elementos psíquicos o são do reservatório
ilimitado das forças espirituais.” – explica o
Espírito Emmanuel.(4) Recordemos
que Jesus utilizou o passe "impondo as mãos" sobre
os enfermos e os perturbados espiritualmente, para beneficiá-los.
E ensinou essa prática aos seus discípulos e apóstolos,
que também a empregaram largamente. Entretanto, é nas
hostes espíritas que o passe é melhor compreendido,
mais largamente difundido e utilizado, “dispensando qualquer
contacto físico na sua aplicação.”(5)
Segundo Ricardo Monezi, “um
dos centros que avaliam o assunto é a respeitada Universidade
de Stanford, nos Estados Unidos. A física atual não
consegue classificar a natureza dessa força, mas vários
estudos indicam que se trata de energias eletromagnéticas de
baixa frequência."(6) Tiago
escreveu: “toda boa dádiva e dom perfeito vêm do
Alto”.(7) Sim, as energias magnéticas
e a prática do bem podem admitir as expressões mais
diferentes. Suas essências, contudo, são continuamente
as mesmas diante do Soberano da Vida.
Os passes poderão ser espirituais,
em função do magnetismo provindo de irmãos desencarnados
que participam dos processos, e humanos, através do magnetismo
animal do próprio passista encarnado. “A cura se opera
mediante a substituição de uma molécula malsã
por uma molécula sã. O poder curativo estará,
pois, na razão direta da pureza da substância inoculada;
mas depende, também, da energia, da vontade que, quanto maior
for, tanto mais abundante emissão fluídica provocará
e tanto maior força de penetração dará
ao fluido.”(8) É importante
explicar, porém, que o tratamento espiritual através
do passe, oferecido na Casa Espírita, não dispensa tratamento
médico.
Infelizmente toda a beleza das lições
espíritas, que provém da fé racional no poder
das energias magnéticas pelo passe, desaparece ante as ginásticas
pretensiosas e burlescas de tratamentos espirituais atualmente praticados
em algumas instituições espíritas mal dirigidas.
O passe não poderá, em tempo algum, ser aplicado com
movimentos bruscos, utilizando-se malabarismos manuais, estalos de
dedos, cânticos estranhos e, muito menos ainda, estando incorporado
e, psicofonicamente, verbalizando “aconselhamentos” para
o receptor. Isso não é prática espírita.
“O passe deverá sempre
ser ministrado de modo silencioso, com simplicidade e naturalidade.”(9)
Na casa espírita não se admitem as encenações
e gesticulações em que hoje se envolveram terapias esquisitas
tais como apometrias, desobsessão por corrente magnética,“choques
anímicos”, cristalterapias (poderes das pedras???), cromoterapias
(poderes das cores???) e outras “terapias” mitológicas,
geralmente atreladas a antigas correntes espiritualistas do Oriente
ou de origem mística, ilusionista e feiticista. É sempre
bom lembrar a tais adeptos fervorosos que todo o poder e toda a eficácia
do passe genuinamente espírita dependem do espírito
e não da matéria, da assistência espiritual do
médium passista e não dele mesmo.
Por conseguinte, na aplicação
do passe não se fazem necessários a gesticulação
violenta, a respiração ofegante ou o bocejo contínuo,
e que também não há necessidade de tocar o assistido.
“A transmissão do passe dispensa qualquer recurso espetacular”.(10)
As encenações preparatórias – “mãos
erguidas ao alto e abertas, para suposta captação de
fluidos pelo passista, mãos abertas sobre os joelhos, pelo
paciente, para melhor assimilação fluídica, braços
e pernas descruzados para não impedir a livre passagem dos
fluidos, e assim por diante – só servem para ridicularizar
o passe, o passista e o paciente.”(11)
A formação das chamadas “correntes” mediúnicas,
com o ajuntamento de médiuns em torno do paciente, “as
‘correntes’ de mãos dadas ou de dedos se tocando
sobre a mesa – condenadas por Kardec – nada mais são
do que resíduos do mesmerismo do século XIX, inúteis,
supersticiosos e ridicularizantes.”(12)
O passe é prece, concentração
e doação. “A oração é prodigioso
banho de forças, tal a vigorosa corrente mental que atrai”.(13)
Por ela, consegue o passista duas coisas importantes e que asseguram
o êxito de sua tarefa: expulsar do próprio mundo interior
os sombrios pensamentos remanescentes da atividade comum durante o
dia de lutas materiais; Sorver do plano espiritual as substâncias
renovadoras de que se repleta, a fim de conseguir operar com eficiência,
a favor do próximo presente ou distante do local de sua aplicação.
Em que pese aos místicos que
ainda não compreendem e criam confusões ao aplicarem
o passe, reconhecemos que muitos encarnados e desencarnados são
beneficiados por ele, pois sabemos que é manifestação
do amor de Deus, esse sentimento sublime que abarca a todos e os alivia.
Importa-nos lembrar, porém, um pensamento Xavieriano: o passe,
tal como terapia, não modifica necessariamente as coisas, para
nós, mas pode modificar-nos a nós em relação
às coisas.
Jorge Hessen