Nieta era pessoa simples e tinha
o sonho como uma interrogação. Já ouvira
falar de pessoas que sonhando haviam chegado a resolução
de problemas matemáticos, antes não resolvidos quando
estavam acordadas.
Existem modalidades existenciais
diferentes? A mente consciente constitui apenas parte do psiquismo
total? Existe uma vida psíquica chamada de “inconsciência”,
que é o principal protagonista quando o sono retira a outra
de cena?
O Livro dos Espíritos (2),
diz que a alma é um ser pensante que permanece ativo durante
o sono. Pelos sonhos, quando o corpo repousa, o Espírito
tem mais faculdades do que no estado de vigília, adquire
maior potencialidade e pode pôr-se em comunicação
com os demais Espíritos. Nesse estado alterado de consciência,
o psiquismo profundo tende a subir em primeiro plano, até
subjugar o EU da superfície?
André Luiz (3),
espírito, relata que Nieta fora transportada ao salão
acolhedor de Dona Isabel. Aniceto, espírito instrutor,
aclara que numerosos irmãos encontram-se neste pouso de
trabalho espiritual, na esfera a que os encarnados chamariam sonho.
Complementa dizendo que nestas ocasiões, no entanto, não
é fácil transmitir mensagens de teor instrutivo
utilizando lugares comuns contaminados de matéria mental
mais grosseira.
Percebemos uma pessoa sonhando
por estranhos movimentos oculares produzidos, por ela, em certa
etapa do sonho. O período REM, "rapid eye movements",
é “paradoxal” porque no ápice do relaxamento
vamos encontrar uma atividade intensa de numerosas estruturas
cerebrais, com variação da freqüência
das ondas cerebrais, e traçado próximo ao do estado
de vigília. Quando eram acordadas neste período
as pessoas contavam que tiveram um sonho (6).
Qual a visão espírita
desses fenômenos? Como interpretar o sonho?(6) A tarefa
não é muito fácil porque estamos mergulhados
numa matéria muito densa. No entanto, André Luiz
nos oferece um exemplo, quando Nieta sonha com a avó desencarnada.
Antes do sonho de Nieta (3)
vamos ouvir outro relato.
Teresa também sonhava (1).
No entanto, na sua visão é possível reconhecer
os caracteres dos pesadelos e poderemos utilizá-la para
fazer um esboço do inferno.
Você já teve pesadelos
e acordou com aquela taquicardia? Como é bom acordar e
encontrar a saída do inferno, embora alguns o admitam como
eterno. Um pesadelo como o de Hiroshima e sem fim, seria também
uma grande injustiça. Já pensou se um dos seus pesadelos
fosse eterno? "Deus me livre", diria você, lembrando
a misericórdia divina.
A descrição do inferno
cristão é tomada dos autores "sagrados"
e da vida dos santos. No livro "O Céu e o Inferno"(1),
encontramos um esboço. Dele vamos tirar alguns trechos
do pesadelo de Santa Teresa.
"Os demônios são puros
Espíritos, e os condenados, presentemente no inferno,
podem ser considerados puros Espíritos, uma vez que só
a alma aí desce, e os restos entregues à terra
se transformam em ervas, em plantas, em minerais e líquidos,
sofrendo inconscientemente as metamorfoses constantes da matéria."
Mas, onde estará esse inferno?
"Alguns doutores o têm
colocado nas entranhas do nosso globo; outros não sabemos
em que planeta, sem que o problema se haja resolvido por qualquer
concílio. Estamos, pois, quanto a este ponto, reduzidos
a conjeturas". Mas, “Santo Agostinho não concorda
que os sofrimentos físicos sejam apenas reflexos de sofrimentos
morais e vê, num verdadeiro lago de enxofre, vermes e
serpentes saciando-se nos corpos, casando suas picadas às
do fogo. Os condenados, vítimas sacrificadas e sempre
vivas, sentirão a tortura desse fogo que queima sem destruir."
"Há teólogos
que dão do inferno descrições mais minuciosas,
variadas e completas. E conquanto se não saiba em que
lugar do Espaço está situado esse inferno, há
diversos santos, transportados em espírito, que o viram".
“Desse número é Santa Teresa. Dir-se-ia,
pela narrativa da santa, que há uma cidade no inferno:
— ela aí viu, pelo menos, uma espécie de
viela comprida e estreita como essas que abundam em velhas cidades,
e percorreu-a horrorizada, caminhando sobre lodoso e fétido
terreno, no qual pululavam monstruosos répteis. Foi,
porém, detida em sua marcha por uma muralha que interceptava
a viela, em cuja muralha havia um nicho onde se abrigou, alias
sem poder explicar a ocorrência. Era, diz ela, o lugar
que lhe destinavam se abusasse, em vida, das graças concedidas
por Deus em sua cela de Ávila"
“Apesar da facilidade
maravilhosa que tivera em penetrar esse nicho, não podia
sentar-se, ou deitar-se, nem se manter de pé. Tampouco
podia sair. Essas paredes horríveis, abaixando-se sobre
ela, envolviam-na, apertavam-na como se fossem animadas de movimento
próprio. Parecia-lhe que a afogavam, estrangulando-a,
a esfolavam e retalhavam em pedaços. Ao sentir queimar-se,
experimentou, igualmente, toda a sorte de angustias."
O sonho de Nieta foi diferente,
embora guardasse viva na lembrança a cobra ameaçadora
(3).
No salão acolhedor de Dona
Isabel, os espíritos André Luiz, Vicente e Aniceto
observavam. Muitos recém-chegados pareciam convalescentes.
Alguns se mantinham de pé, sob o amparo de braços
carinhosos. Eram os amigos encarnados a se valerem do desprendimento
parcial, pelo sono físico, que se reuniam a nós,
aproveitando o auxílio de entidades generosas e delicadas.
A maior parte não entendia com precisão, o que se
lhes desejava dizer. Revelavam boa vontade na recepção
dos conselhos, mas grande incapacidade de retenção.
"Entre eles e nós
existe um espesso véu. É a muralha das vibrações".
"Eis porque raramente estão lúcidos ao nosso
lado".
Aniceto amplia a instrução:
"Vejam aquela jovem senhora
encarnada (Nieta), em conversa com a vovozinha que trabalha
conosco em Nosso Lar (3).
André Luiz observa que
uma anciã (avó desencarnada), de olhos brilhantes
e gestos decididos, abraçava-se à neta."
" - Nieta - exclamava a
velhinha, em tom firme -, não dês tamanha importância
aos obstáculos. Esquece os que te perseguem, a ninguém
odeies. Conserva tua paz espiritual, acima de tudo. Tua mãe
não te pode valer agora, mas crê na continuidade
de nossa vida. A vovó não te esquecerá.
A calúnia, Nieta, é uma serpente que ameaça
o coração; entretanto, se a encararmos de frente,
fortes e tranqüilas, veremos a breve tempo, que a serpente
não tem vida própria. É víbora de
brinquedo a se quebrar como o vidro, pelo impulso de nossas
mãos. E, vencido o espantalho, em lugar da serpente,
teremos conosco a flor da virtude. Não temas, querida!
Não percas a sagrada oportunidade de testemunhar a compreensão
de Jesus!..."
A jovem não respondia,
mas seus olhos semilúcidos estavam cheios de pranto. Demonstrava
uma consolação divina, recostada ao seio carinhoso
da devotada velhinha.
Como é bom ter uma avó
como essa! Nós que estamos na condição de
avós, embora ainda encarnados, devemos nos esforçar
para que nossos netos possam também nos amar profundamente.
Essa tarefa começa pelo amor que devotamos aos seus pais
(5-V). Nessas relações sócio-familiares há
um outro difícil caminho a percorrer é a obtenção
do título de "sogros queridos".
O leitor pode imaginar o número
de perguntas feitas por André Luiz e Vicente.
- Esta irmã se lembrará
de tudo, ao despertar no corpo físico? – perguntou
André Luiz, intrigado, ao orientador.
Aniceto sorriu e esclareceu:
"Sendo a avó mais
evoluída e, examinando ainda a condição
dos planos de vida em que ambas se encontram, a jovem encarnada
está sob domínio espiritual da benfeitora. Entre
ambas há uma corrente magnética recíproca,
salientando-se, porém, que a vovó amiga detém
uma ascendência positiva. A neta não vê o
ambiente com precisão, nem ouve as palavras integralmente.
Não nos esqueçamos que o desprendimento no sono
é fragmentário e que a visão e audição,
peculiares ao encarnado, se encontram nele também restritas".
Começamos a entender o
que disse Erick Fromm:
"na realidade o inconsciente
acha-se representado naquela fração do sonho que
se registra na memória consciente".
Aniceto complementa:
"o fenômeno pois,
é mais de união espiritual que de percepções
sensoriais, propriamente ditas. A jovem está recebendo
consolações, de Espírito a Espírito".
Sabemos da existência de
tipos de sonhos, como fisiológico, pantomnésico,
premonitório. No caso de Nieta, estamos diante do sonho
espiritual, onde há vivência no plano extra-físico.
Como a pergunta de André
Luiz foi parcialmente respondida, Aniceto continua a explicação:
"Ao despertar, Nieta não
se recordará de todas as minúcias deste venturoso
encontro que acabamos de presenciar.
O leitor ainda não acostumado
aos artigos espíritas deverá estar perguntando:
- Se Nieta não vai se
recordar, de que então adiantou encontrar-se com a "santa"
de sua avó, em sonho?
Aniceto, que parecia saber a dúvida
que passava pela mente dos pós-graduandos, ampliou:
"Acordará, porém,
encorajada e bem disposta, sem poder identificar a causa da
restauração do bom ânimo. Dirá que
sonhou com a avó num lugar onde havia muita gente, sem
recordar as minudências do fato, acrescentando que viu,
no sonho, uma cobra ameaçadora, que logo se transformou
em serpente de vidro, quebrando-se ao impulso de suas mãos,
para transformar-se em perfumosa flor, da qual ainda conserva
a lembrança agradável do aroma. Afirmará
que soberano conforto lhe invadiu a alma e, no fundo, compreenderá
a mensagem consoladora que lhe foi concedida."
Vicente, curioso, perguntou:
- "não se lembrará
das palavras ouvidas?"
- Nieta, precisaria ter adquirido
profunda lucidez no campo da existência física
– prosseguiu Aniceto, explicando – e devo esclarecer
que recordará as imagens simbólicas da víbora
e da flor, porque está em relação magnética
com a veneranda avozinha, recebendo-lhes a emissão de
pensamentos positivos. A benfeitora não fala apenas.
Está pensando fortemente também. A neta, todavia
não está ouvindo ou vendo pelo processo comum,
mas esta percebendo claramente a criação mental
da anciã amiga, e dará noticia exata dos símbolos
entrevistos e arquivados na memória real e profunda.
Desse modo, não terá dificuldade para informar-se
quanto à essência do que a bondosa avó deseja
transmitir-lhe ao coração sofredor, compreendendo
que a calúnia, quando fere uma consciência tranqüila
não passa de serpente mentirosa, a transformar-se em
flor de virtude nova, quando enfrentada com o valor duma coragem
serena e cristã.
Depois de sonhos espirituais,
onde Chico Xavier estabelecera relação magnética
com o espírito Emmanuel, surgiu o livro "Paulo e Estevão"
(4), com emoção redobrada.
Quem duvidar leia-o e observe os detalhes, as minúcias.
Por mais duro que seja, seus olhos ficarão molhados!
André Luiz, após
examinar o sonho de Nieta, diz que a lição fora
profundamente significativa, porque começara a adquirir
amplas noções do intercâmbio entre as duas
esferas e lembrou no longo esforço dos que indagam o mundo
dos sonhos (6). Quanta riqueza psíquica,
suscetível de conquista, se pesquisadores conseguissem
deslocar o centro de estudo, das ocorrências fisiológicas
para o campo das verdades espirituais.
Nós compreendemos que,
por algum tempo, ainda será assim. Nos nossos objetivos
perseguimos horas de entretenimento, porque ninguém é
de ferro! No entanto, é necessário, vez por outra,
lembrar que não viemos a vida à passeio. Por isso,
livro como "Potter" (5-I) é mais lido do que
André Luiz.
Harry Potter é "muito
mais moda que magia", "uma fórmula de sucesso
apoiada num grande projeto de marketing" (5-I), como o de
alguns políticos (7).
Os livros da codificação
(1, 2) não vão sair de moda, porque os Espíritos
Superiores elaboraram um plano de ação, implementado
em 1857, não era apenas um plano de marketing.
Os livros de J.K. Rowling seduzem
(5-II), exercem fascínio também em muitos progenitores.
Guardada a proporção, descrições diversas
contidas no livro "O Céu e o Inferno" (1)
e na série André Luiz (3)
também são capazes de aguçar, e muito, a
nossa curiosidade, despertar e fazer voar nossa imaginação
e, ainda, enriquecer nossos pensamentos formigando a emoção.
No entanto, são mais importantes
que Potter pela vantagem de nos colocarem perto da realidade,
como o filme de Andréa Pasquini (5-III), sobre lepra e
hanseníase (5-IV) – "É tudo Verdade".
Muitos vão morrer sem conseguir
ler todos os livros psicografados por Chico Xavier, embora seja
mais rápido ler do que escrever. O espírita não
vai conseguir arranjar desculpas por ter desencarnado sem ter
lido "Paulo e Estevão"(4).
Para escrevê-lo Chico Xavier (3)
necessitou dos sonhos espirituais, como já disse, mas em
"Os Mensageiros" é que André Luiz lembra:
"ainda são poucos os irmãos encarnados, que
sabem dormir, para o bem..."
Reencarnado no Brasil, de FHC-LULA-TAXAS
DE JUROS ALTAS, perder tempo demais com entretenimento é
como "entrar" no cheque especial. Ele já acumula
alta de 208% no período de 12 meses.
Os especialistas em reencarnação/cheques
especiais não recomendam uma vida de privações,
sem gozos terrenos. Mas, defendem uma adequação
à realidade da conta reencarnatoria/bancaria. Não
se pode viver apenas para trabalhar e pagar contas, pois queremos
"qualidade de reencarnação" (vida). Se
a opção é a leitura, talvez seja possível
unir o útil ao agradável, sendo mais seletivo e
criando uma lista de prioridades. Como a média de vida
não é alta, isto é, como a reencarnação
é curta, mas os períodos entre uma e outra podem
ser longos, a pessoa deve tomar cuidado para não entrar
no cheque-"ouro". Deve decidir o que pode ser cortado
e fazê-lo com cuidado, pois vai ser muito difícil
explicar, ao instrutor espiritual, porque cortou "Paulo e
Estevão" (4) e o "Nosso
Lar" (3), em detrimento de outra
literatura (5).