Uma parcela da população
brasileira tomou conhecimento (Veja, 11 de outubro) de que foi
aprovada nos EUA a venda da pílula do aborto. O articulista
chama a atenção de que ela está longe de
ser uma aspirina. A RU-486, neutralizando a ação
da progesterona e o Cytotec, agindo diretamente nas fibras do
músculo uterino acabam expelindo o feto. Não é
parecido com o que ocorre com a pimenta do reino cheirada pela
criança, que introduziu o caroço de feijão
em uma das narinas. Ela pode “espirrar” o corpo estranho.
O feto não deve ser um espírito estranho. Deve haver
alguma ligação, pelo menos, com o psiquismo de um
dos pais, até mesmo na “gravidez indesejada”.
Aqui implica na morte do outro.
A morte é
o que há de mais duro quando vista de fora e enquanto se
está fora dela. Porém, uma vez dentro, experimenta-se
tal sensação de completude, de paz e de realização
que não se quer voltar (C.G.
Jung. Letters, vol 1). O
que Jung não disse é que isso só acontece
quando estamos com a consciência tranquila, não estamos
diante do suicídio ou do aborto. Num projeto de pesquisa,
biológica, bioquímica ou outro qualquer, ninguém
consegue descortinar toda a verdade. Jacques Monod, ao contrário
de Jung, dedicou-se a explorar o mundo público e objetivo
da biologia em vez de dirigir sua atenção para dentro.
Ele olhava para fora como fazem os astronautas. O outro era um
“psiconauta”, não usava microscópio
nem telescópio. Hoje a molécula do DNA pode ser
vista de forma ampliada com as informações daqueles
biólogos que também fizeram a viajem interior. O
trabalho de Monod não pode ser diminuído, pois era
outra esfera de observação. O importante é
que mesmo possuindo apenas parte da verdade coloquemos nossos
esforços em favor da vida humana.
David Lorimer é diretor da “Scientific and Medical
Network”, um grupo internacional de cientistas e de médicos
que pretendem ampliar o arcabouço da ciência e da
medicina de modo a ultrapassar o reducionismo materialista. Escreveu
“Ciência, Morte e Propósito” e nos conta
que Jung recebeu a visita de um amigo a cujo funeral comparecera
na véspera. O amigo acenou para Jung, convidando-o a acompanhá-lo
em imaginação até a sua casa. Chegando lá,
eles subiram ao escritório onde o amigo, trepando num banquinho,
indicou o segundo dentre cinco livros com encadernação
vermelha, na segunda prateleira de cima para baixo. Tomado de
curiosidade, Jung visitou na manhã seguinte a viúva
de seu amigo e pediu licença para procurar uma coisa na
biblioteca do amigo, uma sala com a qual ele não estava
familiarizado. Ali encontrou o banquinho, e localizou os cinco
livros com a encadernação vermelha na segunda prateleira
de cima para baixo. Eram traduções de Zola, e o
segundo volume intitulava-se “A Herança dos Mortos”.
Jung havia desta forma obtido informações por intermédio
de outros canais, diferentes daqueles dos sentidos. O título
do livro é bastante sugestivo.
As pressões sofridas pelos pares nos fazem perder a coragem
de dizer coisas que pensamos. Como não vale o esforço
diante do fanático científico ou religioso muitas
vezes a melhor opção é ficar calado. Jung,
no entanto deixou um recado: “embora não se possam
reunir provas válidas sobre a continuidade da alma após
a morte, há experiências que nos fazem pensar com
cuidado”. É possível que Jung tenha cometido
o mesmo erro dos que duvidavam da existência de partículas
subatômicas. Ainda estamos newtonianos.
E o livro encontrado por Jung?
Explico: tudo mera coincidência ou fantasia resultante de
um desequilibrio bioquímico cerebral pós-funeral.
Fácil explicar as razões das coincidências
usando microscópios ou telescópios. Monod asseverou
que o homem deve acordar de seu sonho milenar e descobrir sua
total solidão. E, garanto que ele não está
sozinho. (Percebeu o duplo sentido?).
Se continuar voltada apenas para fora e para a observação
do exterior, a ciência nada poderá dizer a respeito
do significado e do propósito da vida.
Jung foi capaz de perceber que uma parte da psique ou da mente
humana não se acha confinada no espaço-tempo, mas
é capaz de superar suas limitações em manifestações
de telepatia e de precognição.