Como age o cidadão espírita
em relação à política? Como vem sendo
sua conduta em época de eleição?
Parece-me que a grande maioria
não é apaixonada pelo tema, ficando alguns surpresos
com o Dr. Bezerra.
“A política é a ciência de criar o bem
de todos e nesse princípio nos firmaremos” Deputado
A. Bezerra de Menezes
O cidadão brasileiro é responsável na escolha
do Presidente da República. Como deve o espírita
comportar-se neste momento grave? Qual a importância do
seu voto? Seremos responsáveis pelos resultados do novo
governo?
“O pior analfabeto é
o político. Ele não houve, não fala, nem
participa dos acontecimentos políticos. Ele não
sabe que o custo de vida, o preço do feijão, do
peixe, da farinha, do aluguel, do sapato e do remédio dependem
das decisões políticas. Esse analfabeto se orgulha
dizendo que odeia política. Mas é da sua ignorância
política que nasce a prostituta, o menor abandonado e o
pior de todos os bandidos que é o político vigarista
e corrupto.” Foi, mais ou menos, assim que disse Bertold
Brecht.
Que contribuição
podemos dar como cidadãos espíritas? Será
que a frase corriqueira “não devemos misturar espiritismo
e política” na realidade não está escondendo
insuficiências e deficiências?
Se examinarmos a frase do Deputado
Bezerra vamos notar que está implícita a idéia
de que o homem de bem é um ser político. O que precisa
ficar claro é que não devemos misturar Doutrina
Espírita com política partidária. Mas podemos,
num critério apartidário, examinar a ciência
de criar o bem de todos. A finalidade da Doutrina Espírita
é contribuir para o progresso da humanidade. Isto é
pensar no próprio bem estar futuro, isto é, reencarnar
numa sociedade melhor, mais justa, onde encontrará uma
liderança intelecto-moral.
“Saber é o supremo bem, e todos os males provém
da ignorância.“
León Denis, “No Invisível”,
sétima edição, pág. 341.FEB
O espírita deve ficar atento para não repetir os
erros do passado. Para tanto bastará lembrar os períodos
históricos de evolução das Religiões.
No início encontramos a pureza original da fé, em
seguida surge a organização eclesiástica,
que num outro momento sente a ambição pelo poder
temporal, levando-a à decadência. Dizia o professor
N.G.Barros: “o terceiro período caracteriza a ausência
de confiança na maternidade do espírito. Logo, podemos
concluir que a Religião deixa de ser movimento espiritualizante,
para se transformar em Partido Político de conquista do
Poder Temporal. Sem a conscientização de que há
em nós um princípio inteligente eterno e perfectível,
nenhuma Religião ou Filosofia se liberta do Poder Temporal
e da Decadência Própria.”
É pertinente enfatizar
que precisamos estar atentos para não deixar a Casa Espírita
se transformar em comitê de campanha ou palanque de candidato.
Ela deve ser apartidária e aí, também concordamos,
que “Espiritismo e política não se misturam.”
O espírita, como ser social, deve participar da sociedade
e colaborar na sua transformação. A Casa Espírita
não está impedida de orientar seus frequentadores,
quanto à importância do voto consciente. A pessoa
vê a sociedade como algo abstrato e fica com a sensação
de que não faz parte dela, lavando as mãos.
A resposta do espírito
Bezerra de Menezes nos deixa cientes da necessidade do voto consciente:
“quando você votar e o país tomar o rumo, então
você é responsável, porque o rumo que o país
seguir, será o resultado do homem que você escolheu.”
Para o espírita, o candidato
deve estar liberto do ter. Zaqueu seria, na época, um bom
candidato: “Senhor, dou a metade dos meus bens aos pobres
e, se causei dano a alguém, seja no que for, indenizo-o
com quatro tantos.” O moço rico perdeu a eleição!
Dar aos pobres talvez fosse mais fácil, o problema era
seguir Jesus.
O candidato deve estar liberto
do poder. Na estrada de Damasco Saulo de Tarso era o poder equivocado,
mas compreendeu a verdade que o libertou.
“De boa vontade pois me gloriarei
nas minhas fraquezas,
para que em mim habite o poder de Cristo.”
2 Corintios 12: 9
Uma outra característica
dos políticos do futuro, líderes autênticos,
é que serão “pobres de espírito”.
A incredulidade zombou dessa máxima. Eruditos, doutores
não entenderam a mensagem de Jesus, porque julgavam possuir
muito saber e, por isso, alimentaram a falsa idéia de superioridade
e infalibilidade.
Alguns dizem que o parente-candidato
não é bom, mas que vão votar nele assim mesmo,
porque pelo menos tirarão algumas vantagens. É o
pensamento inconsciente imediatista incapaz de prever as conseqüências.
O mesmo espírito Bezerra adverte: “Se você
escolheu, porque tinha interesses pessoais e não os interesses
da comunidade, responderá pelo carma histórico e
coletivo que virá.”
E, se com essa mesma falsa idéia,
diante das câmaras de TV, o candidato escolher o aborto?
Algumas pessoas, sem refletirem,
defendem o aborto dizendo que a sociedade deve fazer sua opção
num plebiscito. Poder-se-ia , no mesmo momento, perguntar sobre
pena de morte, eutanásia e outros. Após ouví-los
alguns vão chegar à conclusão que: “matar
é a coisa mais natural deste mundo”.
Li, na Ciência e Cultura(37
(8): 1296-1297. 1985), um artigo que não aceitava o argumento
de que o aborto “mata uma vida em formação”.
Ora, diz o médico e autor, “se seguirmos esse tipo
de raciocínio, teremos de admitir que os métodos
anticoncepcionais também fazem o mesmo: matam pela raiz.
Continua o articulista: - “o casal que evita o coito genital
nos dias férteis da mulher, consciente e deliberadamente
está a impedir uma criança de viver.” Seguindo
a mesma linha de raciocínio, lembramos dos espermatozóides
na masturbação masculina, o que, para ele, deve
impedir muitas crianças de viverem. Será que, para
ele, um programa de planejamento familiar não seria uma
medida preventiva do aborto?
O problema não é
tão simples como parece e por isso mesmo não pode
ser tratado simplisticamente. O articulista de Ciência e
Cultura, no entanto está coberto de razão, quando
afirma que “temos o dever de nos integrarmos ativamente
no debate, pois não nos cabe o direito de permanecer alheios
à discussão de nenhum tema de relevância nacional.”
É necessário realmente refletir antes de votar!
Não concordamos com sua
tese, mas o felicitamos por discutir a questão, expondo-se
com coragem. Lembramos que este é um tema mascarado e escondido
por hipocrisias e tabus, que sofre pressão até internacional,
além de ser um grande estimulante de radicalismos.
No Jornal do Conselho Federal
de Medicina (página 10, agosto de 1994) duas cartas receberam
o mesmo título: “ Aborto e Anacronismo “. Nelas,
as representantes da Comissão de Cidadania e Reprodução
e da CEPIA (Cidadania, Estudo, Pesquisa, Informação
e Ação) manifestam profundo respeito e admiração
pela atitude que chamaram de corajosa de dois médicos.
Eles admitiram publicamente que, mesmo contra a Lei, por solicitação
materna, interrompiam gestações em casos de anomalias
fetais graves.
Uma professora de Filosofia, nas
suas reflexões, diz que “a reivindicação
do direito de decisão sobre o aborto é contestada
pela Igreja Católica como negação das orientações
religiosas.” E, continua: - “estranha argumentação,
que parece esquecer que nem toda a humanidade é católica
(ou mesmo cristã) e que aqueles que não o são
devem ter o direito de optar por diferentes regras de vida.”
Isto me lembrou debate onde um
ex-deputado, depois de fazer um resumo crítico do pensamento
exposto pelos debatedores, acusou-os de estarem batendo sobre
a velha tecla ao defenderem o voto. Disse o ex-deputado: - “Vocês
me desculpem, mas já vi esse discurso. O cidadão
vota, cruza os braços e vota quatro anos depois. As democracias
modernas não se explicam mais apenas com modelos de representação.”
Um jornalista usou da palavra
e ironizou a crítica, dizendo que o interesse do ex-deputado
não era debater, mas impedir um acordo que estava começando
a surgir. Para colocá-lo no que considerou o eixo do debate
perguntou-lhe: “O voto é o ponto central da democracia
ou não é?“ E, continuou: “Não
adianta dizer que é velho. Você tem uma novidade
melhor? E sabe porque é tão difícil aceitar
isso? Porque dá trabalho, é lento, é chato!
Porque, não é bastante ser brilhante, inteligente
e ter boas idéias, é preciso ter a maioria, e isso
complica as coisas!” ( O Globo, 12. O País. Sábado,
07-9-1996)
Será que candidatos à
Presidência da República, por medo de se revelarem
ou por ausência de reflexão, vão se recusar
a discutir o assunto na TV?
Certamente alguns candidatos (deputados
e senadores) vão ficar escondidos na sombra de sua covardia.
Pergunta central:
deve-se aceitar o aborto de uma jovem, gestante HIV-positiva,
grávida pelo estupro?
O candidato pensará:
“a gravidez vai acelerar a infecção do vírus
e a mulher, já agredida pelo estupro, certamente não
vai querer um filho, que vai nascer com Aids.”
Gostaria de pedir ao leitor
e eleitor que nesse momento parasse e refletisse um pouco
antes de responder a questão. Deve-se aceitar o aborto?
E, nessas condições?
Responda para si mesmo. Marque
a resposta no parênteses correspondente para depois verificar
se mudou de idéia. Sim ( ) Não ( ). Marque, também,
a resposta do seu candidato ( ) Sim ( ) Não.
Somos livres para pensar e decidir.
Eu, particularmente, sou contra qualquer tipo de censura, o que
não é o mesmo que denunciar a “televisão”
que está deseducando a população em geral
e a criança em particular. É dever do cidadão,
principalmente dos especialistas em saúde integral, exigir
o cumprimento do disposto no Capítulo V da Carta da República,
sobre Comunicação Social. A Constituição
Federal, estabelece prioridades educativas, artísticas,
culturais e informativas para o rádio e a televisão,
afirmando que um dos princípios que devem guiar a programação
é o respeito aos valores éticos e sociais.
O Artigo 220 recomenda a criação
de meios legais que garantam à pessoa e à família
a possibilidade de se defenderem de programas de rádio
e TV. Não podemos deixar de lembrar que a família,
base da sociedade, tem proteção especial do Estado
e é dever da família e do Estado
assegurar à criança e ao adolescente
acesso à cultura, à dignidade e à
convivência familiar e comunitária.
O Ministério Público
Federal deve tomar as providências que lhe cabem no sentido
de fazer cumprir o disposto na Carta da República. Qual
a colaboração que o candidato, em quem você
votou, tem dado nesse sentido?
O Carlos Eduardo Novaes era colecionador
de pérolas políticas e disse certa vez que “os
maus governantes são eleitos pelos bons cidadãos
que votam mal.” Alguém pode querer manipular o que
foi dito e é necessário enfatizar que o voto é
o centro da democracia. Podem falar mal, botar milhões
de defeitos, podem dizer que o processo é enfadonho, trabalhoso,
lento, digam o que quiserem, mas os cientístas ainda não
descobriram algo melhor.
Em uma coisa temos que concordar
com o Novaes: “O maior defeito da democracia é que
somente o Partido que não está no governo sabe governar.”
“Bem aventurados os que têm
fome e sede de justiça, porque serão fartos.”
Mateus, 5
E sobre o aborto? Qual a posição
do seu candidato? E a sua? Gostaria de modificar a resposta oferecida
naquele primeiro momento? Ainda há tempo!
Na época em que estudei
os aspectos legais e éticos do abortamento o capítulo
VI do Código de Ética, que trata da responsabilidade
profissional médica, dizia que o médico responde
civil e penalmente por atos profissionais danosos ao cliente,
a que tenha dado causa por imperícia, imprudência,
negligência ou infrações éticas (artigo
45). Será muito diferente para os profissionais da Comunicação
Social?
O aborto é um tema que
origina hoje reações extremadas, em países
desenvolvidos, resultando em sérios problemas de segurança,
como descrito por Sampaio ( Reformador, pág.176-179, junho
de 1998): “Certo Pastor de uma igreja fundamentalista passou
quatro anos preso por colocar bombas em dez clínicas onde
o aborto era realizado. Sua agressividade chegou a tal nível
de insanidade que, solto persiste em sua cruzada, e é
responsável pela origem de plásticos para serem
colocados em vidros de veículos com a seguinte sugestão:
Executem os Aborteiros Assassinos.”
Na sociedade que ainda dá
os primeiros passos da evolução, a luta, que se
deveria processar no campo das idéias, se transforma em
agressões físicas. O movimento religioso, deturpando
os verdadeiros valores produzem as “guerras-santas”.
A liberdade de credo é constitucionalmente garantida no
Brasil, mas já existem ensaios de violência de alguns
que se dizem religiosos. Recentemente, houve uma manifestação
ruidosa em um “Shopping”, pasmem, no Rio de Janeiro,
contra um espetáculo teatral, onde o Codificador da Doutrina
Espírita estaria representado.
A idéia de imortalidade
e reencarnação apavora tanto quanto a do “Príncipe
da Trevas”. É tão difícil produzir
argumentos racionais contrários à primeira, quando
favoráveis à segunda! Diante da impotência
e do desespero só resta a eles uma alternativa. Aí
o argumento às vezes é muito forte!
O médico não deverá
provocar o abortamento, salvo quando não houver outro meio
de salvar a vida da gestante ou quando a gravidez resultar de
estupro, mas sempre depois do consentimento expresso da gestante
ou de seu representante legal ( Código Penal, art. 128).
“É na consciência
humana que se encontram os princípios
que darão autoridade para todos,
quando forem proclamados pela vontade nacional
e convertidos em leis pelos eleitos do povo.”
León Denis (6)
Uma de minhas filhas fazia o internato
no Hospital. Lá ela recebeu e trouxe para casa um “material
didático” que trazia o título: “Pratique
Solidaried’Aids”. Nele encontramos “os dez mandamentos
da luta contra a Aids”. O primeiro era: “Amarás
a vida sobre todas as coisas”, e, o quinto, “Não
engravidarás nem amamentarás sendo HIV positiva.”.
A gestante, da questão
central, recebeu estas informações.
E, se o feto foi gerado sem os
hemisférios cerebrais (anencéfalo)? Isso, também,
acontece na vida real!
Questões semelhantes nos
fizeram escrever o livro, “Dores, Valores, Tabus e Preconceitos”
(ver livraria do geae - http://www.geae.org), porque raciocínios
como estes muitas vezes transcendem o espaço de um artigo.
O leitor gostaria de pensar novamente
na questão originalmente proposta? Lembremos a existência
de um dado complicador, o estupro. É uma questão
complexa como aquela que ocorreu durante a tempestade no mar.
Num naufrágio mãe
e filha única se separam. As ondas afastam
a filha. De repente uma outra criança agarra-se à
mãe. O que fazer? Salvar a criança, que tem nela
a última chance de sobrevivência, ou largá-la
e procurar salvar a própria filha?
A vida isolada é a vida egoísta,
a vida selvagem;
a vida em comum é a vida moral, que faz nascer o direito
e o dever...”
Denis
Como devemos agir? Como justificamos
o agir?
Todas as decisões implicam
num processo de escolha, que é precedido de julgamento,
que por sua vez é determinado, entre outros fatores, pelo
valores pessoais daqueles que decidem. Os valores ou a formação
de valores, por sua vez, são uma conseqüência
das atividades dos indivíduos dentro de um meio social.
É bom lembrar que a influência de valores pessoais
em julgamentos muitas vezes não é consciente.
Será que o leitor respondeu,
a questão central deste texto, de modo inconsciente?
Existe estudo informando que o
direito de matar o nascituro, em ambiente hospitalar, não
diminuiria o aborto ilegal ou clandestino. Este argumento, utilizado
a favor do aborto, é assim muito desvalorizado.
Você exclamaria: mas é
um caso de estupro! Recuso-me a aceitar uma gravidez
que se originou de um ato violento.
E, tem toda a razão, pois
é difícil aceitar que a Justiça Divina se
valha de um expediente tão sórdido para provar ou
punir. Que Deus é esse que ainda deixa a criança
nascer com Aids? Aliás este Deus é hoje responsável
por tantas outras coisas!
Alguns deseducadores religiosos,
que trabalham com a Pedagogia do medo, substituem o Deus por outra
“divindade” capaz de fazer o grande milagre, o de
extrair dólares de pessoas ingênuas.
Todos um dia saberão que
temos guias espirituais que nos protegem e que nos falarão
a respeito de que estamos aqui para aprender; do propósito
superior de nossas vidas. No entanto, respeitando o livre arbítrio
individual, nos permitem prosseguir numa situação
se assim o desejarmos. Eles têm o cuidado de não
eliminar nossas lições. Se estivermos avançando
na direção de algo que irá nos ensinar uma
lição valiosa porém difícil, eles
poderão nos mostrar maneiras mais alegres de aprender a
mesma coisa. Se resolvermos persistir no caminho original, eles
não tentarão impedir-nos. Cabe-nos escolher a alegria,
mas caso aprendamos melhor através da dor e do esforço,
os guias espirituais não os afastarão de nós
( 9 ). A Doutrina dos Espíritos nos ensina que o acaso
não existe no universo, onde Leis Divinas e justas regem
a vida física e moral.
Alguns médiuns nos deixam
estupefatos.
Nostradamus previu a decapitação
do Duque e deu o nome do carrasco, que foi escolhido “ao
acaso”, na hora. Isto 66 anos após a morte do médico
francês (1503-1566). O cálculo matemático
da probabilidade desta predição estaria na proporção
de um para cinco milhões contra o acaso.
Conheci uma pessoa que não
consigo esquecer. Fomos visitá-la e, para não ir
só, convidei um amigo. Era uma visita fraternal porque
o nosso amigo estava numa enfermaria. Quando chegamos, encontramos
um grupo que tinha ido levar a bioenergia aos pacientes. Ao perguntarem
quem rogaria ao Pai, antes do passe, o meu amigo “enfermo”
se ofereceu. Eu e o outro, sentados com ele na cama, ouvimos sua
prece que arrancou lágrimas de todos. Marcondinho agradeceu
a Deus, justo e bom, pelo dom da vida. Agradeceu à sua
mãe a oportunidade da reencarnação e às
Entidades Venerandas, através de Kardec, pela Codificação
da Doutrina Espírita, que ele aprendera a amar no Centro
Espírita Filhos de Deus, A Casa do Caminho, no Curupaiti.
E, onde ele havia adquirido resistência moral contra as
dores.
Se a mãe de Marcondinho
soubesse que a Hanseníase, na época sem tratamento,
o deixaria cego, com os braços e as pernas atrofiados,
levando-o à cadeira de rodas; se ela soubesse dos seus
sofrimentos, talvez tivesse feito a opção pelo aborto.
No entanto, teve um filho amado e inesquecível, também
para outras pessoas. Os espíritas vão entender quando
eu disser que o Marcondes trabalhava na reunião mediúnica
e teve oportunidade de ajudar espíritos desencarnados,
que ainda estavam sofrendo com o estígma da lepra e as
seqüelas da hanseníase.
Marcondes havia entendido a frase
registrada por Marcos, Lucas, Mateus e João, que é
estudada no Evangelho Segundo o Espiritismo, no capítulo
XXIV, ítem 18.
“Se alguém quiser vir
nas minhas pegadas,
renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me.”
“Bem aventurados os que choram,
porque serão consolados”
Mateus, 5
Emmanuel pede que reparemos, em plena Natureza, todos os elementos,
que em face do mal, oferecem o melhor que possuem para o reajustamento
da harmonia e para a vitória do bem. “Quando o temporal
parece haver destruido toda a paisagem, congregam-se as forças
divinas da vida para a obra do refazimento. O sol envia luz sobre
o lamaçal, curando as chagas do chão. O vento acaricia
o arvoredo e enxuga-lhe os ramos. O cântico das aves substitui
a voz do trovão. A planície recebe a enxurrada,
sem revoltar-se, e converte-a em adubo precioso. O ar suporta
o peso das nuvens e o choque da faísca destruidora, mas
torna à leveza e à suavidade. A árvore de
frondes quebradas ou feridas regenera-se, em silêncio, a
fim de produzir novas flores e novos frutos. Aprendamos a receber
a visita da adversidade, educando-lhe as energias para proveito
da vida. A ignorância é apenas uma grande noite que
cederá lugar ao sol da sabedoria. Entendamos o bem”.
(Fonte Viva, decima nona edição, p.85-86, FEB).
Com esse pensamento Paulo se dirigiu
aos companheiros:
“Não te deixes
vencer pelo mal, mas, vence o mal com o bem.”
Romanos, 12: 21.
Voltemos à questão
central!
Que estigma! Filho de um estupro!
Tendemos a acreditar que alguém
com um estigma não seja um ser humano. Com base nisso,
fazemos discriminação, reduzimos sua chance de vida,
como o fizemos com os antigos leprosos, com a filha da prostituta
ou com o ex-presidiário.
Hansenianos e indivíduos
HIV positivos são portadores de um estigma mais do que
de uma doença. Antonio Magalhães Martins, autor
do livro “Do Outro Lado Da Fronteira” disse certa
vez que eu jamais teria possibilidade de entender o que é
ser discriminado como leproso. Mas, o seu livro é tão
esclarecedor! Disse-lhe na ocasião. Ele retrucou: “experiência
vivida não pode ser transmitida”. Esta foi a resposta
de minha mulher, quando indaguei sobre a dor do parto.
Será Deus tão injusto?
Mas, se for injusto deixa de ser Deus! Como compreendê-Lo?
Luciano dos Anjos (1)
escreveu que não devemos nos cansar de pesquisar,
discutir e conceber a Eterna Substância, que deve ser ainda
um dos primordiais - senão o único - objetivos filosóficos
da criatura. Comenta que após um politeísmo esdrúxulo,
embora acalentando-o com a unicidade mosaica desse Criador, nada
melhor nos apresentaram além de um Deus antropomorfo, pessoal
e todo-poderoso. A conseqüência natural é o
ateísmo, quando não leve direto ao materialismo
absoluto.
No livro de uma professora de
filosofia, formada pela USP, nas suas reflexões finais
ela diz que “numerosas investigações científicas
parecem atestar que o número de óvulos fecundados,
que são expulsos espontaneamente, antes da implantação
no útero, é extremamente elevado - cerca de 30%.
No entanto, continua a pensar a professora, há argumentos
religiosos que insistem que a alma passa a pertencer ao novo ser
no momento da fecundação.” Em seguida, pergunta:
“qual o destino dessa alma que tem seu futuro interrompido
precocemente por um Deus tão esbanjador?”
(Maria Tereza Verardo.1987. Aborto. Um direito ou um crime. Editora
Moderna)
Certamente se fôssemos esse
Deus, também não faríamos melhor!
“Não há, não houve, não haverá
poesia.
Vencido o silêncio, a palavra é mutilação.”
J.G. de Araújo Jorge, apud L. Anjos
O espírita, que é jornalista e escritor diz que
não é fácil concebê-Lo ( embora talvez
não seja impossível) fora dessa idéia em
que a maioria das religiões e das escolas filosóficas
O apresentam. Mas é preciso compreender que, afinal, é
exatamente fora dessa idéia que Ele se encontra e daí
a dificuldade mesma de entendê-Lo.
“Arte
é ânsia de conter o infinito numa expressão.”
Gilka Machado, apud L. Anjos
Após passar rapidamente em revista algumas escolas filosóficas,
o escritor, nos mostra o esforço de muitos que tentaram
resolver a Grande Equação. Definições
e conclusões enquadram-se , duma forma ou doutra, dentro
de três posições fundamentais para explicar
Deus: o Ateísmo, o Panteísmo e o Teísmo.
O Teísmo, sem dúvida, foi que mais se aproximou
da verdade, porém, ainda assim, apenas nas suas linhas
gerais. Adotou a melhor posição teológica
no quadro genérico das concepções. Todavia
não soube avançar na explicação detalhada.
E, quando o fez, fê-lo mal.
“Deus! O terrível problema! Quando a ciência
chega aqui, ou emudece ou blasfema.”
Guerra Junqueiro, apud L. Anjos
O leitor já percebeu que não há intenção
de nossa parte em desenvolver a questão como alguns gostariam
de ver desenvolvida. Por isso, é que sugiro a leitura da
obra, colocada nas referências bibliográficas, para
que possam apreender o pensamento do autor. Cabe-nos transcrever,
ainda, que “ninguém se aproximou tanto da concepção
de Deus, capaz de suportar o raciocínio moderno, do que
o monismo vedantino.”
“Uma generalização que termina num Deus pessoal
não pode ser universal,
não pode ser verdadeira.
Temos de ir adiante, ao Impessoal.
O Deus Impessoal que propomos não é um Deus relativo;
por isso não se pode dizer que ele é bom ou mau,
mas que é algo além do bem e do mal,
porque não é bom nem mau.”
Swami Vivekananda, apud L. Anjos
Anjos, L. (1) diz : “ importa
esclarecer bastante um aspecto da questão: Deus impessoal
na transcendência e pessoal na imanência já
se propôs e representa de fato um grande passo na direção
da Verdade; entretanto, o Deus que proponho é IMPESSOAL
NA IMANÊNCIA E NA TRANSCENDÊNCIA”,
dentro de um absurdo que analisou posteriormente.
Informação pertinente
é que o autor, depois de inúmeras reflexões
afirma que a melhor explicação de Deus, sem dúvida,
há de ser aquela dada pelos Espíritos a Allan Kardec,
por vários motivos e, ainda, porque se houvessem ido mais
além nos confundiriam a razão.
“Que é Deus? - Deus
é a Inteligência suprema, causa primária de
todas as coisas.”
Anteriormente, discutindo as condições
da vida após a morte, aproveitando a dúvida apresentada
por um médico, nos socorremos do depoimento de um outro.
O médico André Luiz retorna à nossa dimensão
graças a extraordinária mediunidade de Francisco
Cândido Xavier e conta com detalhes a sua experiência
do outro lado da vida. Para ilustrar o pequeno capítulo
utilizamos as experiências de quase morte, quando as pessoas
se lembram de sua breve passagem do outro lado. Comentamos que
a nossa ansiedade nos faz desafiar uma pessoa, que passou pela
experiência autoscópica, a provar que a morte do
corpo não mata a vida. No entanto, observa-se que estas
pessoas não estão interessadas em fornecer tal prova
a terceiros. Uma delas disse: “Quem teve a experiência
sabe. Os outros devem esperar a prova final”.
Dores, Valores, Tabus e Preconceitos. CELD Editora
Para as pessoas que tiveram a
experiência do “Transcendente”, a existência
de um Deus Imanente e Transcedente não é uma questão
de crença infundada, mas um fato baseado numa vivência
direta. Assim como nossas atitudes acerca da realidade material
da nossa vida diária são baseadas, primeiramente
nas percepções sensíveis.
Guardadas as devidas proporções
este comentário faz lembrar o de Erick Fromm quando afirmou
que “o inconsciente só o é em relação
ao estado normal de atividade”, “são simplesmente
estados mentais diversos, que se referem às modalidades
existenciais diferentes.” Assim, podemos admitir que a mente
consciente constitui apenas parte do psiquismo total. Existe uma
vida psíquica chamada de “inconsciência”.
Esta atividade psíquica é o principal protagonista,
quando o sono retira a outra de cena. Na realidade o inconsciente
acha-se representado naquela fração do sonho que
se registra na memória consciente.
“Se eu quiser falar com Deus
tenho que aceitar a dor, tenho que comer o pão que o diabo
amassou,
tenho que virar um cão, tenho que lamber o chão
dos palácios suntuosos do meu sonho,
tenho que me ver tristonho, tenho que me achar medonho e
apesar de um mal tamanho alegrar meu coração.”
Gil
Você também lembrou do Marcondinho?
Devemos permitir que uma mulher
portadora do vírus da Aids fique grávida?
Ja se falou até na esterilização
de homens HIV positivos, embora não haja justificativa
de ordem ética ou legal capaz de legitimar esta prática.
E se a mulher HIV positiva desejar
ter um filho? Não discutimos o valor do diagnóstico
precoce permitindo à mulher evitar a gravidez. Mas, e se
ela já estiver grávida? Legalizado o aborto, o médico
que se recusar a fazê-lo poderá ser demitido por
justa causa?
Quando estamos diante de um dilema
devemos discuti-lo e só tomar uma decisão após
profunda reflexão. Quando discutimos estamos perguntando
a resposta a Deus. Ele nos responde quando estamos fazendo a reflexão,
com profundidade e extensão. Há, então, maior
lucidez, aumento do nível da consciência, local onde
estão escritas as Leis Divinas.
Por isso oramos, antes da decisão.
“É da discussão
que nasce a luz”
Ouvi, certa vez, uma discussão,
diálogo, entre duas pessoas ( 8, 16 ). Uma delas havia
enfrentado, com muita angústia, um aborto espontâneo.
Percebi que, embora fossem do mesmo credo, apresentavam posições
antagônicas. Senti vontade de entrar na discussão,
sem ser convidado, mas observando anteriormente que eram materialistas
resolvi ficar, discretamente, escutanto.
Muitos têm fé no
niilismo, como elas, e acreditam na inexistência
de vida após a morte, embora esta tese seja defendida sem
nenhuma evidência experimental que a suporte. Até
hoje ninguém provou que não existe vida depois da
morte, mas, alguns defendem quase fanaticamente essa idéia.
Sem saber se estaria diante de uma delas, resolvi recolher-me
à minha insignificância. As pessoas de credo materialista,
acreditam no nada, geralmente se recusam a olhar pela janela espiritualista,
que fica no lado oposto do cômodo. O fanático é
cego às evidências científicas acumuladas
e que apontam na outra direção.
Afirmo que o Corynebacterium
diphtheriae produz porfirina, que é fluorescente sob
luz U.V.. O pigmento fluorescente pode ser facilmente pesquisado
e usado como triagem no diagnóstico laboratorial da difteria
(12). Afirmo, porque tenho evidências experimentais que
suportam essa afirmação, mas ninguém até
hoje me deu evidências de que a morte do corpo mata a vida.
“Richet disse que uma boa e completa experiência vale
por cem observações, e acrescentaremos: vale dez
mil negações, ainda mesmo quando essas negações
emanassem de sumidades de maior notoriedade, se estas não
se dignassem repetir as experiências e demonstrar-lhes a
falsidade”
Gabriel Delanne, 1893
Voltemos ao diálogo entre as duas senhoras.
Uma opinião apresentada por uma delas,
a de que o aborto é um direito, foi o que me chamou a atenção.
Vivemos nos equilibrando entre direitos e deveres!
Disse: “a campanha pela legalização
do aborto deve seguir na direção pura e simples
do direito de abortar, não necessitando, a mulher, explicar
que há problemas com o feto ou que foi estuprada. O aborto
não deve ser considerado crime e o argumento que invoco
é um só. A mulher pode dizer que não quer
este filho e que seu corpo lhe pertence. Este é o projeto
de lei pelo qual anseiam as mulheres."
Diz a outra:
“mas, aqui o direito de um implica na morte
do outro. Não podemos auto-atribuirmos a decisão
e a ação de matar o outro. Isto é questão
de poder acumpliciado a uma licença ética. É
exatamente o que se dá com o político que leva o
povo à guerra; dá-se ainda com o terrorista, com
o torturador, com os assassinos de todos os matizes. Poder e não-ética
associados produzem todas as lesões ao outro: o roubo,
a censura, o seqüestro, a lista é longa”.
León Denis ( 6 ), que foi um orador brilhante,
fez uma conferência em Tours, na sala do Cirque e posteriormente
em Orléans, na sala do Instituto, em fevereiro e abril,
respectivamente. A acolhida que lhe foi feita, e o convite insistente
de um grande número de ouvintes, permitiram que hoje pudéssemos
estudá-lo. Nele Denis diz: “nós que desejamos
uma ordem social baseada na Justiça e na Liberdade, façamos
inicialmente, justos e virtuosos a nós mesmos, tornemos
nossos corações livres, as razões esclarecidas,
os costumes dignos, as consciências honestas e marchemos
nós, em frente, sem fraquejar.”
Voltemos ao diálogo das duas amigas.
Em defesa de suas idéias, continuou a senhora:
“o aborto não é um direito, é uma possibilidade
decorrente do poder e da anestesia da consciência, como
escravizar o negro, matar judeus.”
“A Idade Média foi
a idade de ferro, a idade do feudalismo,
a idade onde as fogueiras crepitaram,
onde o sangue corria em torrentes nas salas de tortura,
onde as incontáveis forças se erguem com os seus
frutos sinistros.”
Denis
Como que se não tivesse
escutado os argumentos apresentados, surge a réplica:
“A legislação do aborto não
dá à mulher autonomia sobre seu corpo. Precisamos
entrar na modernidade! Estamos atrasados em relação
à Itália, Alemanha ou à França.”
O leitor também já ouviu essa conversa
antes, não?
Alguns acreditam que o que se USA lá deve-se
USAr cá!
Nem nos EEUU a lei é abrangente!
“Sim”, concorda a outra. “Mas,
não seria o caso de ampliar a informação
sobre anticoncepção? Usar do direito de não
engravidar, nestes dias modernos de Aids, usar a camisinha e exigir
a colaboração do companheiro? Afinal, a eficiência
dos anticonceptivos é próxima de 100%! “
“É, mas um dia a casa cai e você
aparece grávida, minha filha! - disse a outra."
A resposta veio na ponta da língua: “mas
a culpa é do bebê?” O óvulo é
seu. O útero, também, mas o ovo fertilizado é
outra pessoa!
“Na alma humana existe um sentimento natural que a eleva
acima de si mesma para um ideal de perfeição no
qual se resumem essas potências morais denominadas o Bem,
a Verdade e a Justiça. Esse sentimento, quando está
esclarecido pela Ciência, quando é fortificado pela
razão, quando tem por base essencial a liberdade de consciência,
da consciência autônoma e responsável, esse
sentimento é o mais nobre de quantos possamos conhecer.”
Denis
Pudemos ouvir o silêncio, enquanto a outra engolia em seco,
embora não se desse por vencida.
“Sim, mas enquanto os t-e-ó-r-i-c-o-s,
como você, discutem se o feto com duas ou com quatro semanas
já é uma pessoa, a mulher engrossa as estatísticas.
Você sabia, minha cara, que nos meados de 1985 o aborto
era a quarta causa de morte? Que o INAMPS gastava 46% do orçamento
de obstetrícia em complicações causadas pelo
aborto? Que a Organização Mundial de Saúde
indicava, em 1978, a ocorrência de 3 a 5 milhões
de abortos anuais no Brasil e que isso representava 10% dos casos
no mundo? As mulheres pobres vão continuar abortando com
agulha de tricô?
A conversa estava tão quente que resolvi
escutar ainda mais discretamente. Conclui que a intuição
mais uma vez havia me favorecido. Afinal poderia sobrar pra mim.
E se uma delas resolvesse olhar na minha direção
e me perguntasse: “o senhor não acha?”
Eu não poderia ser indelicado e responder:
“Eu não acho nada, minha senhora!”
De repente a outra, olhando para minhas mãos
e, como se quisesse me envolver na discussão disse: “Espera
aí, vamos entrar nessa de que o Ministério
da Saúde adverte... e, gastar fortunas dos recursos públicos,
para tratar enfisema e câncer pulmonar que apareceram por
causa de uma droga socialmente aceita?
“Minha amiga”, falou com tom de piedade,
“não seria melhor investir numa estrutura melhor
para gerar filhos? Investir em creches e oferecer orientação
sobre contracepção? O país já tem
os sistemas de comunicação bem desenvolvidos é
só questão de vontade política fazer a opção
pela educação!” e, arrematou: “Isto
não é o mesmo que colocar o aborto na lei e a consciência
fora da lei?”
Nesta hora achei que a outra não ia conseguir
sair da lona, enquanto eu, o juiz, contava até dez.
“Há pessoas com nervos
de aço.”
Lupicinio Rodrigues
Como lutador de excelente preparo físico ela ficou de pé,
e: “Ora, minha amiga, estamos discutindo a existência
de alguém que ainda nem é uma pessoa. É apenas
um amontoado de células. Eu estou defendendo a mulher e
você vai ficar defendendo um feto!”
“A mulher é sempre ignorada. Essa
é a grande questão do nosso século. As mulheres
que abortam, no Brasil, não o fazem por opção.
Quando falo no direito de abortar falo em direito à vida
humana, decente e digna. É preciso existir estrutura para
gerar filhos, foi você mesma quem colocou!”
E agora, você já descobriu qual possui
a capacidade maior de argumentar e contra-argumentar? As mulheres
que defendem os seus direitos precisam ser ouvidas. Eu sou a favor
da competência, esteja ela de saia ou não.
“Sim”, veio a resposta: “e deve
ser aí que devemos gastar a nossa energia e não
tentando desumanizar o outro! Sempre que se quer humilhar, castrar,
limitar ou matar o outro, recorre-se a esta técnica consagrada.
O primeiro ato é des-humanizar. Se o embrião
é um VIR A SER, mas NÃO É ainda por que não
suprimi-lo em favor dos que SÃO?
Hitler e Stálin tinha idéias, até
nobres, pelas quais se auto-atribuíram o direito, e até
o dever, de matar judeus, dissidentes, capitalistas, comunistas
e católicos.
O que se quer é “des-humanizar”
o embrião para adormecer as consciências
com uma legitimidade.
A ciência não tem uma definição
de vida, portanto não pode justificar um procedimento tão
grave sobre o que desconhece.”
“Há pessoas com nervos de aço, sem sangue
nas veias e sem coração.”
Lupicinio
Eu não sei onde esta conversa foi parar, mas ela me estava
fazendo pensar tanto, que já me sentia cansado. Foi com
certa contrariedade que tomei o ônibus e deixei as senhoras
com as suas reflexões. Mas, ainda consegui ouvir:
“O Brasil continua na Idade Média
em relação à condição da mulher."
Para essas mudanças chegarem, precisamos
de pressão e conscientização.”
Creio que os três concordávamos,
aí não tínhamos dúvidas! Pressão
de ambas as partes, favorecendo a reflexão. E, conscientização
ampla, geral e irrestrita, sem escamotear os argumentos espiritualistas.
O Boletim Informativo AJA/PB (Ano 1, número
6, julho-setembro, 1996), nos lembra que pouco antes da Guerra
de Secessão, em 1857, a Corte Suprema dos Estados Unidos
declarou que o negro não era pessoa ante a lei por sete
votos a dois. Um século mais tarde, em 1973, no caso Roe
X Wade também por sete votos a dois, a mesma Corte Suprema
declarou que o nascituro não era pessoa ante a lei. Os
argumentos foram semelhantes: 1. (1973) Toda mulher tem direito
a fazer o que queira com o seu corpo, (1857) todo homem tem direito
a fazer o que queira com a sua propriedade; 2. (1973) Ainda que
possua um cérebro e biologicamente seja considerado um
ser humano, o nascituro não é pessoa ante a lei,
(1857) Ainda que possua um cérebro e biologicamente seja
considerado um ser humano, o negro não é pessoa
ante a lei; 3. (1973) Acaso não será o aborto mais
humanitário? Afinal não têm todos os bebês
o direito de serem desejados e amados? Não é melhor
que a criança jamais chegue a nascer do que enfrentar sozinha
um mundo cruel? (1857) O negro não tem direito a ser protegido.
Não é melhor ser escravo do que ser enviado sem
preparo a um mundo cruel? E, por aí vai!
Voltemos à questão
original. Você é contra! Não gostaria de pensar
de novo, rever a resposta?
Você é contra o aborto
e defende a manutenção de um óvulo fecundado
ao mesmo tempo que condena à morte prematura uma mulher,
que deixará outros filhos órfãos?
É melhor evitar o nascimento
de milhões de crianças sem família, sem lar,
sem proteção e que serão os marginais do
futuro ou os jogadores da seleção, que irão
perder ou ganhar novamente o campeonato mundial de futebol. Será
que o direito à vida deve ficar atrelado a classe social
privilegiada?
Agora, o leitor, está começando
a entender as nossas raras lideranças generosas que lutam
por oferecer o aborto através de nossa rede pública.
Vamos voltar a esse assunto mais adiante. “Me aguarde!”
Na realidade o que está
por trás deles é a insensibilidade, que se acompanha
do medo. Medo de dividir o bolo da riqueza nacional.
“Bem
aventurados os misericordiosos, porque alcançarão
misericórdia.”
Mateus, 5
Alguns vão parar de ler neste momento. Irão argumentar
que o assunto e muito difícil ou alegar que já estão
cansados de pensar. É assim que cometemos os maiores crimes.
Não gostamos de pensar e tomamos decisões de forma
irresponsável e inconsciente. Alguns se recusam a examinar
as evidências científicas da imortalidade da alma
e os diversos casos sugestivos de reencarnação,
publicados por pesquisadores competentes e sérios. São
incapazes de perceber que a questão da sobrevivência
da alma, depois da morte física, é tema crucial
para a educação, porque pode influenciar a hierarquia
de valores, padrões éticos, códigos morais
e comportamento dos seres humanos.
Aqueles que se recusam a discutir
esta questão tornam-se cegos. Não sabem que os recentes
progressos no novo paradigma da Biologia e da Física fortaleceram
ainda mais as evidências de que a consciência humana
sobrevive à morte do corpo físico. Morre a persona,
mas a individualidade é indestrutível. Seu destino
posterior é um tema que merece reflexão. Onde ficam
empilhadas as almas depois que perderam seus envoltórios
materiais?
O Brasil faz milhões de
interrupções de gravidez anuais. Nossas enfermarias
recebem um grande número de mulheres, na maioria adolescentes,
apresentando complicações decorrentes desta prática.
Isto aumenta o índice de mortalidade materna que é
dezenas de vezes maior do que a mortalidade nos países
desenvolvidos.
Você é favorável
ao aborto e afirma que a mulher é dona do próprio
corpo.
Sim, ela é e concordamos.
Defendendo veemente a posição,
você arremata: o feto é simples apêndice da
mãe, não sendo pessoa humana não possui direitos!
No entanto, a partir do momento
em que uma pessoa é gerada ela tem as mesmas características
e direitos que qualquer outra.
O aborto é um tema que
precisa ser amplamente discutido pela sociedade. Até mesmo
a classe científica deixa a desejar. Relata Gollop que
em 1976, quando levantou em plenário da Sociedade Brasileira
de Genética, a necessidade de profunda discussão
acerca da mudança na lei do aborto a resposta do plenário
fê-lo chegar à indignação: “esse
é um problema dos obstetras! Nós, geneticistas apenas
faremos os diagnósticos.”
Outra evidência da necessidade
de socializar esta discussão é o desconhecimento
por parte das aflitas gestantes de que 94% dos exames é
tranqüilizador e permite ao casal levar adiante uma gravidez
livre de angústias. Os resultados obtidos com 348 entrevistas
realizadas com gestantes que se dirigiam ao diagnóstico
pré-natal, demonstraram que 86% delas optariam por interromper
a gravidez, caso o diagnóstico revelasse um feto anômalo.(Gollop,
T.R. & Pieri, P.C. “A reformulação do
código penal versus Juiz autoriza aborto no Paraná”,
Pediatria Moderna, 24(3): 382-383, 1994). Estes números
parecem indicar a necessidade de um amplo trabalho de educação
integral que pudesse aumentar o nível de informação
e formação não apenas neste campo restrito.
O interesse pela Medicina Fetal
não deveria ser movido apenas pelo fato de conferir maior
“status” aos Departamentos de Obstetrícia e
Ginecologia.
Concordamos com Gollop quando
lembra a importância do respeito pela pluralidade de idëias
e pelo livre arbítrio dos seres humanos e discordamos dos
que acreditam deter o privilégio de toda a informação.
“O
estado social valerá o que nós valemos.
Se nós somos retos, justos, esclarecidos, o Estado será
grande;
se somos pequenos, ignorantes e viciosos, o próprio Estado
será frágil e miserável. Portanto, o progresso
social só o é possível com o progresso de
cada um de nós.”
Denis
Mas, o feto é apenas um
apêndice da mãe!
Consultemos a Embriologia ( 13
). Logo após a fusão da membrana celular do espermatozóide
com a do ovócito acontece também a fusão
dos seus dois pronúcleos. Nos pronúcleos estão
os cromossomos masculino e feminino. Em seguida aparece um novo
e único núcleo, o zigoto fertilizado. Este momento
marca o ponto zero do desenvolvimento embrionário. A partir
daí temos um novo potencial genético e o zigoto
diferencia-se completamente do organismo da mãe.
É muito baixa a percentagem
de óvulos fecundados que naturalmente são capazes
de nidar no útero materno e evoluir a embrião. Desta
forma, podem ocorrer concepções que não evoluem
para o embrião e que são mascaradas pelo ciclo menstrual.
Admite-se que o espírito,
com o seu “corpo espiritual”, modelo organizador da
forma, perispírito, será atraído pela molécula
do ácido desoxirribonecléico (DNA), por isso na
clonagem se faz a célula regredir à forma blástica
( 14 ). Do ponto de vista físico-químico, o DNA
não difere de qualquer molécula do organismo, mas
no aspecto estrutural, diferencia-se por funcionar como uma lente
atratora-redutora. A molécula do DNA atrai as energias
perispirituais e materializa-as, permitindo a transdução
dessa matéria quintessenciada para a matéria biologica.
“Semeia-se corpo animal, ressuscitará corpo espiritual.
Se há corpo animal, há também corpo espiritual.”
I Coríntios, 15: 44
No caso do laboratório,
para fazer um campo atrator para o espírito reencarnar
é preciso uma molécula com a formação
lenticular como a do DNA, sob as condições da fase
embrionária ou de totipotência. O conjunto dessas
forças leva à materialização do corpo,
ao nascimento. Há uma malha eletromagnética extra-atômica,
ligada por uma espécie de túnel com a malha de forças
intra-atômicas, representada pela força nuclear fraca,
a qual, por sua vez, tem ligação com a energia flutuante
quântica do vácuo. Nesse vácuo atômico
tem-se todo um campo de grávitons que vai fazer com que
haja a agregação de matéria. Os genes têm
capacidade de concentrar ectoplasma e transformá-lo em
fótons, empacotando-os sob a forma de trifosfato de adenosina
(ATP). Mas, não basta apenas a abertura dos genes da ontogênese
para haver reencarnação. A estrutura genética
é um agente predisponente, mas não determinante.
Nesse caso, os fatores espirituais vão ser determinantes.
Pode-se dizer que o útero é “uma câmara
de materialização de espíritos”.
Impossível não lembrar as experiências
de William Crookes, com a médium Florence Cook, que oferecia
suporte ectoplamático para que esses fenômenos energéticos
ocorressem e possibilitassem a materialização do
espírito Katie King. Vale a pena procurar e ler um outro
caso ( 9 ) descrito pelo professor N.G. Barros.
“Não digo que isso
seja possível; afirmo que isso é uma verdade.”
William Crookes
No zigoto fertilizado para que
haja agregação da matéria é necessária
a atuação de uma força gravitacional, tendo-se
então uma atração de massas para o corpo
que vai sendo formado por células que vão se aglomerando.
Neste processo temos um espírito e também
um corpo formando um ser único, específico
e peculiar. Isto é, não repetível e capaz
de comandar, por si só, todo o processo de diferenciação
até a formação integral do novo ser.
“Compreendei agora quanto é necessário que
cada um de nós se esclareça e se aperfeiçoe,
quanto é necessário que o julgamento de todos se
fortifique, porque, eu vos pergunto, que faríamos dos direitos
e das liberdades se não soubéssemos empregá-los
com sabedoria, com discernimento.”
Denis
A curiosidade pode ser muita,
mas não devemos apressar o futuro, quando aprenderemos,
na outra dimensão, a “chutar uma lata”ou fazer
“flutuar uma moeda”. O suicídio é uma
falta grave!
“M.J.-B.D. era um homem instruído,
mas em extremo saturado de idéias materialistas, não
acreditando em Deus nem na existência da alma. A pedido
de um parente, foi evocado, na Sociedade Espírita de Paris,
dois anos depois de desencarnado”.
( Kardec. A. 1865. “O Céu e o Inferno”, 25
edição, segunda parte, capítulo V, pág.
312. Suicidas, Um ateu. FEB)
“P. - Quando vos afogastes, que idéias
tinheis das conseqüências? Que reflexões fizestes
nesse momento?”
“R. - Nenhuma, pois tudo era o nada para
mim. Depois é que vi que teria de sofrer mais ainda.”
Segundo Kardec, para os duros
de coração que nasciam sem a intuição
da prova da existência de Deus e da vida futura, era muito
difícil esta aquisição durante a vida corporal
e a custa do próprio raciocínio.
Hoje, com os avanços científicos
e tecnológicos, a imortalidade e a vida futura regida por
Leis Divinas, são mais fáceis de serem apreendidas.
É por isso que até a Igreja Católica já
se rendeu à comunicabilidade dos Espíritos dos “mortos”
e experimentos utilizando a técnica de transcomunicação
instrumental são realizados, com aval do Vaticano.
Na época em que ocorreu
o suicídio acima não se dispunha de tanta facilidade.
O comentário anterior explica, mas não justifica
o ato cometido pelo homem instruído, que não acreditava
nas provas da existência de uma Inteligência Suprema,
nem na vida futura, que tinha, por assim dizer, incessantemente
sob os olhos. Kardec esclarece que “muitas vezes, porém,
a presunção de nada admitir, acima de si, os empolga
e absorve." Assim, sofrem eles a pena até que, domado
o orgulho, se rendem à evidência.
“Bem aventurados os limpos
de coração, porque verão a Deus”
Mateus, 5
“P. - Que motivo poderia ter-vos levado ao suicídio?”
“R. - O tédio
de uma vida sem esperança.”
Kardec leciona: “grandemente
culpados são os que se esforçam por acreditar, com
sofismas científicos e a pretexto de uma falsa razão,
nessa idéia desesperadora, fonte de tantos crimes e males.
Esses serão responsáveis não só pelos
próprios erros, como igualmente por todos os males a que
os mesmos derem causa.” ( Kardec, A. 1865. O Céu
e o Inferno. 25 edição. FEB. Segunda parte, capítulo
V. Um Ateu. P. 312-314)
Felizes são os chegam à
conversão antes do desencarne!
Outro “leproso convertido”
nos ofereceu seu testemunho em “Flores de Outono”.
As páginas recebem o mesmo
título “Falta”. (Monteiro,
E.C. A Extraordinária Vida de Jésus Gonçalves.
P. 78. Terceira edição, nov. 1983. Editora Espírita
Correio Fraterno do ABC. S. B. Do Campo, SP; Xavier, F. C. &
Gonçalves, J. Flores de Outono. Terceira
edição, 1984. LAKE, pág. 63 e 71).
Em 1940, Jésus era muito
triste, sem esperança e escreve:
“ Onde andará um
“não sei quê”, um bem, em cuja busca
sou judeu errante? Por onde eu passo, já passou também...
e quando chego já partiu há instante...
Não sei se está
na vida, ou mais adiante, dentro da morte, nas mansões
do além... Se está no amor... se está na
fé, perante os dois altares que esta vida tem.
Mas, se esta vida é um
sonho, a morte o nada; o amor um pesadelo; a fé receio;
por que manter-se em luta desvairada?...
No entanto, eu sigo... acovardado,
triste... A procurar em tudo em que não creio, a coisa
que me falta e não existe! “
“O Espiritismo, longe de temer as descobertas da Ciência
e o seu positivismo, lhe vai ao encontro e os provoca, por possuir
a certeza de que o princípio espiritual, que tem existência
própria, em nada pode com elas sofrer.”
Kardec, A. 1868. A Gênese. Cap. X.Gênese
Orgânica.
Pág. 203, ítem 30, FEB
Em 1943, Jésus já
havia encontrado a Doutrina Espírita e foi muito feliz!
“Hosana! Eu já encontrei
o grande Bem, em cuja busca fui judeu-errante."
É o facho luminoso que
contém a luz que me ilumina a todo instante!
E ele está na vida e mais
adiante, dentro da morte, nas mansões do além...
Está no amor... Está
na fé... Perante os dois altares que esta vida tem!
Pois, nem a vida é sonho
e a morte o nada. O amor é luz; a Fé o santo meio
de tornar esta luta compensada!
Por isso eu sigo... nos caminhos
meus, a procurar em tudo quanto creio, a coisa que faltava e ...
que era Deus!”
O Espiritismo marcha ao lado do materialismo, no campo da matéria;
admite tudo o que o segundo admite;
mas, avança para além do ponto onde este último
pára.
O Espiritismo e o materialismo são como dois viajantes
que caminham juntos,
partindo de um mesmo ponto;
chegados a certa distância, diz um:
“Não posso ir mais longe.”
O outro prossegue e descobre um novo mundo.
Por que, então, há de o primeiro dizer que o segundo
é louco,
somente porque, entrevendo novos horizontes,
se decide a transpor os limites onde ao outro convém deter-se?
Kardec, A. 1868. A Gênese. Cap. X.Gênese
Orgânica.
Pág. 203, ítem 30. FEB
Respondendo a Allan Kardec, os
espíritos disseram, em “O Livro dos Espíritos”
(questão 344), que a ligação do espírito
à matéria, com que irá formar seu corpo físico,
se dá desde a concepção. A O.N.U. declara
que a criança é um ser vivo desde a fecundação,
durante o período uterino, após o nascimento, até
os sete anos de idade.
Embora não seja uma união
decisiva, o ser, mais evoluído e de posse de seu livre
arbítrio, muitas vezes pode recuar. O espírito reencarnante
já está ligado vibratoriamente ao zigoto, exercendo
influências nas trocas genéticas e intimamente ligado
ao psiquismo da mãe.
A ultra-sonografia, a amniocentese
e a cirurgia fetal estão iniciando representações
do feto e do embrião como individualizados e separados
do corpo grávido materno de tal modo que, mesmo quando
englobados por ele, esses seres já são medicamente
percebidos como “segundos pacientes”para monitoração
e eventualmente terapia(6).
O bebê não é
um quisto no corpo da mãe, mas um ser que quer ter o primeiro
de todos os direitos que é o direito à vida, como
ensinaram os espíritos nas questões 344 e 880. Assim,
no aborto estão em jogo duas vidas, duas liberdades, dois
destinos diferentes. E a alma? Será que foi criada no momento
da concepção? Deus é dependente de um casal
para criar?
“Se eu quiser falar com Deus tenho que dizer adeus,
dar as costas, caminhar decidido pela estrada que ao findar vai
dar em nada, nada, nada do que eu pensava em encontrar.”
Gil
E diante de anomalias fetais graves e incuráveis?
Neste caso o aborto não seria válido?
Uma mulher tem o direito de levar
a termo uma gestação com uma criança seriamente
afetada, quando isso representa uma carga financeira e social
imensa para toda a sociedade?
Desde novembro de 1993, a equipe
do Instituto de Medicina Fetal e Genética Humana de São
Paulo ( 11 ) vinha tratando a questão da interrupção
de gestações, nas quais haviam sido diagnosticadas
anomalias fetais graves e incuráveis, com uma estratégia
muito bem estabelecida. Solicitavam alvarás judiciais para
as interrupções com base no laudo dos exames realizados;
relatórios de três médicos e laudo psicológico
do casal. Pensavam que amealhando sentenças, envolvendo
uma razoável quantidade de patologias, elaboradas por juizes
de diferentes pontos do país chegariam na reformulação
do nosso código penal. Desta forma teriam aliado o judiciário
à própria luta, o que era de importância fundamental.
Afinal, os juizes podem iniciar sua justificativa afirmando que
“o pedido de interrupção seletiva da gravidez
deve ser deferido, consoante inúmeras decisões proferidas
em situações idênticas...”
“Apesar da tortura e da fogueira, apesar do patíbulo,
apesar dos massacres, pedaço por pedaço,
os direitos do pensamento e da consciência se revelam e
se afirmam.
Cada geração traz seu tributo de dores, de trabalho,
de esforços
e a herança comum aumenta sem cessar.”
Denis
O leitor já ouviu falar de “carma
futuro coletivo”como herança?
A estratégia era oriunda
de uma sugestão dada pelo juiz dr. Miguél Kfoury
Neto, autor da primeira sentença formulada em Londrina,
em 1992, autorizando a interrupção de uma gravidez
complicada por anencefalia. Isto aconteceu vários anos
depois da primeira discussão no Congresso Brasileiro de
Genética, julho de 1976, em Brasília. Nesse tempo
evoluimos da fase do diagnóstico pré-natal dos anos
80 para a medicina fetal dos anos 90. Hoje pode-se tratar algumas
patologias fetais e não há dúvidas de que
se contam com sucessos indiscutíveis, como as transfusões
intra-uterinas, em casos de alo-imunização Rh.
“Assim como o passado prepara o presente,
o presente, que somos nós, deve preparar o futuro:
eis aí a lei da imensa solidariedade que une todos os tempos
e todas as raças.”
Denis
Mas, o que fazer quando são malformações
múltiplas ou aberrações cromossômicas
graves? Uma criança portadora de malformação
merece viver como qualquer ser humano? Se eliminarmos uma criança
por causa de sua malformação, poderemos também
eliminar os que não têm a cor da pele ou sexo esperado?
Foram obtidas sentenças
autorizando interrupções de gravidez em fetos portadores
de aberração cromossômica incompatível
com vida extra-uterina prolongada e, em dois casos, constava
dos laudos médicos que a mãe absolutamente não
corria risco de vida. Aliás, lembramos que justificar
as interrupções de gestação, mesmo
em casos de anencefalia, com base no risco de vida materno é
discutível do ponto de vista médico ( 11 ). Este
comentário parece aplicar-se à nossa questão
inicial, você ainda lembra?
Voto eletrônico consciente.
É mais difícil votar assim!
Quando estamos pressionados pelas
emoções cometemos grandes enganos. Ouvindo a notícia,
neste sábado que é véspera do dia dos pais,
quase concordamos com a reivindicação daquele professor.
Ele teve a filha como uma das vítimas do maníaco
rotulado de “moto-boy”. Depois refletimos, a pena
de morte não se apóia em nenhum direito e a experiência
parece documentar que a sua prática não é
capaz de deter a mente resolvida a praticar o mal. É difícil
para a Psicologia explicar o comportamento desses indivíduos
capazes de realizar atos tão cruéis.
O argumento da possibilidade de
erro jurídico é suficiente para invalidar toda a
retórica dos que lutam à favor da pena de morte.
As Entidades Venerandas disseram a Kardec que “há
outros meios da sociedade preservar-se de um membro perigoso,
que não matando.” É difícil evoluir
e deixar o “dente por dente, olho por olho”. Talvez
se pudéssemos penetrar no sofrimento da consciência
desperta e culpada, e verificássemos os estágios
posteriores do arrependimento e do remorso, tivéssemos
nosso ódio diminuído. Mas, diante da emoção,
à guisa de nos proteger da violência, acabamos de
levantar a bandeira da própria violência. Recordamos
o “dente por dente” e nos esquecemos de outro momento
“não matarás”.
Onde estará o erro genético
desses seres que são capazes de produzir os crimes hediondos?
Um médico e professor estudioso
do “Complexo Cérebro-Mente” nos diz que “parece
muito claro que o cérebro, por si só, não
é capaz de justificar toda capacidade da mente humana e
o conhecimento científico é muito limitado para
alcançar as razões filosóficas da natureza
humana e do seu destino”.
Diz ainda o Professor Titular
de Neurocirurgia da Unicamp e diretor do Instituto do Cérebro,
que “bem antes do nascimento, as manifestações
de vivências agradáveis ou não da mãe
já imprimem na mente da criança, que vai nascer,
reações que logo após o parto podem ser semiologicamente
confirmadas.”
Nos congressos de Neuropediatria
já estão incluídos em sua temática
a apresentação de trabalhos sobre o Psiquismo Fetal.
Diz o dr. Nubor Orlando Facure que a confirmação
de um “Psiquismo Fetal”, intimamente ligado ao “Psiquismo
Materno”, implica em mais um motivo para nossa meditação
quando falamos em aborto. (Folha Espírita, julho de 1994,
transcrita em Reformador, pág. 338, novembro de 1994).
A pena de morte, o erro “genético”
do maníaco do parque, nos faz , também, lembrar
a criança portadora de malformação, que é
“membro pleno da espécie humana e que merece também
viver como qualquer ser humano.”
A pena de morte e o aborto de
crianças portadoras de malformações se tratam
de opções intelectuais e morais que não se
podem justificar racionalmente até o fim!
Será que no futuro também
serão eliminados os que não tenham o sexo esperado?
Para o nazismo o maior defeito
genético era não nascer alemão.
Trabalhamos recentemente a questão
do ensino, pesquisa e ética na Microbiologia Médica
(10). No texto que elaboramos para os alunos do Curso de Pós-graduação
discutimos a posição em que ficaria o docente-pesquisador,
desta especialidade, na aula teórica, ao terminar a estatística
da Sífilis congênita. Diversas questões que
já nos foram feitas foram lembradas: - “professor,
o senhor acha que devemos distinguir os campos da ética
e da religião? Professor, a religião é sempre
a expressão das convicções da fé de
um grupo humano restrito, mas a ética é muito mais
abrangente. O senhor não acha?”
Lembrei que na Universidade de Columbia há
o crédito de Religiões Comparadas. Aqui, no Brasil,
nos ajudaria a entender e respeitar o universo cultural de um
país católico e reencarnacionista.
León Denis diz que “o
homem tem necessidade de saber; precisa do esclarecimento, da
esperança que consola, da certeza que guia e sustém.
Também tem os meios de conhecer, a possibilidade de ver
a verdade desprender-se das trevas e inundá-lo com sua
luz benéfica. Para isso, deve afastar-se dos sistemas preconcebidos,
perscrutar-se a si próprio, escutar essa voz interior que
fala a todos e que os sofismas não podem deturpar: a voz
da razão, a voz da consciência.”
“Se eu quiser falar com Deus tenho que ficar a sós,
tenho que apagar a luz, tenho que calar a voz,
tenho que encontrar a paz tenho que folgar os nós...”
Gil
- “Professor, a ética avalia
o comportamento do ser humano enquanto ser humano, independente
de qualquer convicção religiosa ou política?”
Mestre! O estupro não é
uma grande injustiça por ser uma violação
física e moral da dignidade da pessoa? E, pior, “a
injúria agrava-se quando é seguida de gravidez imposta
à força!”
Problemas éticos podem
ser resolvidos pela estatística, como a questão
da adesividade de bactérias às células do
hospedeiro? ( 10, 12 ) Ou, será a ética de ordem
qualitativa?
A base da legislação
é a ética?
O Estado é o centro legislador
para todos os cidadãos?
O aborto situa-se no campo ético,
que é competência do Estado?
Um feto anencéfalo é
apenas uma tentativa frustrada e deformada da natureza?
Uma realidade biológica
irreparavelmente deformada não pode ser considerada pessoa
em potencial?
Estas são questões,
formuladas por um professor de ética na universidade, que
merecem reflexões
(Pegoraro, O.A. “Anencefalia
e aborto”. O Globo, sábado, 13 de setembro de 1997).
Se uma pessoa-em-potencial (feto)
ainda não é uma pessoa, podemos, desta forma, recomendar
o aborto? Uma pessoa-sem-potencial (paciente terminal) não
é mais uma pessoa, então podemos pensar em eutanásia
?
E se os espíritas estiverem
com a razão? Eles advogam que são inúmeras
as evidências científicas sugestivas de imortalidade
e reencarnação. Devemos estudá-las, no mínimo,
para não sermos considerados indigentes culturais ( 10
).
A Organização Mundial
de Saúde orienta que, para a instalação de
serviços de saúde em qualquer país, deve-se
respeitar os aspectos culturais do povo.
Que argumentos são utilizados
para conceder validez moral ao ato da interrupção
de uma gravidez complicada por ausência dos hemiférios
cerebrais?
A resposta é curta porque
o cerne argumentativo repousa na ausência de vida, associado
à imagem de subumanidade. Os “sub”
são aqueles para quem a vida é fadada ao “fracasso”,
ou para quem, no mínimo, o conceito de vida não
é adequado.
Os anencéfalos não
podem ser diferenciados dos animais, pois não possuem o
órgão-sede, que por seu desenvolvimento evolutivo,
permitiria essa diferenciação. Assim, admite-se
estar no cérebro a localização da humanidade.
A gestante foi estigmatizada, por alguns, como um “caixão
ambulante”.
O vigário coadjutor da
Comunicação da Arquidiocese de São Paulo,
Fernando Altemeyer Junior, comenta no Jornal do Brasil, em 1 de
abril de 1996, que a idéia de vida que nutre essa imagem
não é apenas a que diz respeito à integridade
biológica. Por trás desta ideologia, que esconde
a verdadeira intenção, existe uma expectativa de
vida muito mais ampla e é exatamente isto o que une, de
forma relativamente clara, um feto anencefálico a um feto
portador de trissomia do cromossoma 21 ( Síndrome de Down,
Mongolismo).
O mesmo raciocínio pode
ser aplicado a fetos com ausências de membros distais que
são alvos potenciais da “interrupção
seletiva da gravidez”. No fundo, vamos encontrar uma idéia
social de vida, respaldada é claro, pela plenitude biológica,
o que justifica grande parte das solicitações de
aborto seletivo.
Os juízes assentam a legitimidade
do procedimento na ausência de vida dos fetos justificando
que “o objeto jurídico do aborto consiste na preservação
da vida humana que, na hipótese sob análise, não
ficaria prejudicada pela interrupção da gravidez,
ante o fato descrito...”. Parte-se de uma construção
legal de positividade de vida (proíbe-se assim a eutanásia)
para uma negatividade de vida em nome da sub-humanidade extrema
do feto. O argumento tem o seu oposto que é uma positividade-limite,
onde qualquer forma de aborto deve ser proibida.
“Não basta se dizer...,
é preciso que o sejamos pelos costumes e pelo caráter,
é necessário que cada um de nós trabalhe
para se instruir,
para se moralizar e para se tornar melhor.”
Denis
Os dilemas éticos parecem ser mais
facilmente solucionados quando a medicina e a vida social apontam
para a total impossibilidade de vida biológica e moral.
Mas, nas zonas sombrias, nos casos-fronteira, como o de um feto
portador de trissomia do cromossoma 21, este mesmo argumento “vida
humana” toma outra conotação. Aí os
juizes concedem um domínio da concepção moral
de vida sobre os argumentos exclusivamente técnicos de
sobrevivência ou de qualidade de vida. Chegamos ao suporte
juridico-moral, à decisão legal e ficamos diante,
como disse Diniz (7), da moral medicalizada, a moral justificada
por intermédio do discurso biológico.
Segundo estimativas extra-oficiais,
existem hoje no Brasil cerca de 350 alvarás judiciais autorizando
a prática da interrupção seletiva da gravidez
em nome de anomalias fetais incompatíveis com a vida extra-uterina.
A margem de erro de um exame fetal é de 1/1000.
Mesmo assim o problema ético
continua a desafiar os que não se cansam de pensar.
Recentemente, uma lei passou a
considerar todos os brasileiros como doadores potenciais de órgãos
para transplante. Determinar a morte da pessoa passou a ser a
grande discussão. Nesta fase do desenvolvimento da Fisiologia
o conceito, antes associado ao coração, deslocou-se
para o cérebro e a primeira definição de
morte encefálica foi divulgada no final da década
de 60. A legislação brasileira decidiu que o diagnóstico
de morte encefálica deveria ser definido pelo Conselho
Federal de Medicina, o que resultou na Resolução
11346/91. Estes critérios, que mais tarde foram aperfeiçoados
pela Resolução 1480/97 do mesmo Conselho, estão
atualmente em vigor ( 4 ).
“Para discernir o porquê da vida, para conhecer sua
razão de ser,
para entrever a lei suprema que rege as almas e os mundos
é preciso saber libertar-se (...) das preocupações
de ordem material,
de todas as coisas passageiras e volúveis (...)
dificultando nossos julgamentos.”
Denis
Rocha ( 14 ) diz que há condições
bem definidas em que se pode avaliar a ocorrência de morte
cerebral, como por meio da angiografia, a cintilografia, a ecoencefalografia,
a eletronistagmografia, disponíveis em todos os centros
especializados, em que se pressupõe eliminada a possibilidade
de quadros potencialmente reversíveis. Mesmo assim, é
de se esperar o espaço de tempo de 24 horas após
a primeira verificação de óbito presumível
para a verificação da morte.
Cardoso (4) lembra que além
de estabelecer critérios clínicos precisos para
o diagnóstico, a Resolução do CFM recomenda
ainda, para pacientes acima de dois anos de idade, a realização
de um exame complementar dentre os que analisam a atividade circulatória
cerebral ou sua atividade metabólica. Para pacientes acima
de uma semana de vida, até dois anos de idade, sugere a
realização de um eletroencefalograma, com intervalos
variáveis de acordo com a idade.
Analisando os critérios,
o autor espírita e médico (4) diz que tal recomendação
é oportuna e revela uma grande cautela, lembrando ainda
que, na opinião da maioria dos neurologistas, o diagnóstico
de morte cerebral não impede e nem dispensa a adoção
de qualquer atitude terapêutica pertinente. Este diagnóstico
significa apenas, para o momento dos nossos conhecimentos
médicos, “a impossibilidade do retorno à
vida.” ( o negrito é do autor).
Cardoso, que acompanha os progressos
da medicina, pensa adiante e diz que no futuro é possível
que os critérios de morte encefálica possam ser
modificados, pois a Ciência avança a cada dia. Informa-nos
que já há até quem defenda certas técnicas
de hipotermia, que teriam a possibilidade de recuperar casos antes
tachados de “irreversíveis”.
“Esta vida para ser eficaz, não pode ser isolada.
Fora de seus limites, além do nascimento e da morte,
vemos, numa espécie de penumbra, desenrolar-se uma multidão
de existências
através das quais (...) conquistamos (...) o pouco de saber
e de qualidades que possuimos e pelos quais também conquistaremos
o que nos falta:
uma razão perfeita, uma ciência sem limites e um
amor infinito por tudo quanto vive.”
Denis
Voltemos ao aborto!
Você lembra quantos alvarás
judiciais existem autorizando a prática da interrupção
seletiva da gravidez?
Se respondeu 350, você possui
boa mémória. Mas, você sabe me dizer se essas
autorizações foram para a utilização
dos anencéfalos como doadores de órgãos?
Vamos recordar para melhor raciocinar.
A anencefalia é uma anomalia congênita caracterizada
por ausência da calota craniana e couro cabeludo, podendo
apresentar cérebro residual amorfo, rudimentar e desorganizado
na base do crânio. Resulta de defeito no fechamento do tubo
neural, que normalmente se completa antes do final do primeiro
semestre. O período da gênese da anencefalia ocorre
entre o décimo quinto e vigésimo sexto dia do desenvolvimento
embrionário. Hoje há decréscimo da incidência
(anencéfalos/ano) e a causa principal é a interrupção
da gestação após o diagnóstico precoce
da patologia.
Sabe-se que há relação
direta entre fetos anencéfalos e abortamento espontâneo.
Cerca de 65% morrem no período intra-útero. Dos
que sobrevivem, cerca de 2/3 falecem nas primeiras três
horas. Alguns registros mostraram que, de 180 anencéfalos
vivos, 58% não sobreviveram após as primeiras 24
horas.
Poder-se-ia utilizar os órgãos
de um anencéfalo em outra criança? A causa é
nobre, você não acha? Pense na criança que
nasceu com uma hipoplasia de ventrícolo esquerdo e poderia
viver com um novo coração transplantado.
Mas você também não
acha, como lembrou Cardoso (4), que tal doação precisa
respeitar, em primeiro lugar, a experiência que está
findando, caso contrário não poderemos garantir
que o ato ocorreu dentro de um sentido ético?
Importante lembrar que “o
remorso é um grande caçador.”
“A dor é a suprema
purificação,
é a fornalha onde se fundem todas as escórias impuras
que corrompem a alma:
o orgulho, o egoísmo e a indiferença.”
“É inútil procurar o inferno nas regiões
desconhecidas e distantes.
O inferno está em torno de nós
e se oculta nas dobras ignoradas da alma culpada,
na qual só a expiação pode fazer cessar as
dores.”
Denis
O primeiro transplante de órgãos, nestas condições,
ocorreu em Los Angeles, em 1961. Os posteriores obtidos em 41
oportunidades ofereceram bons resultados “apenas”
em 30% de transplantes renais e 33% de cardíacos (11).
Mas, quando realizar a retirada
dos órgãos?
Há casos de transplantes
(coração, como exemplo) em que o órgão
precisa ser retirado do doador quando ainda em vitalidade.
Nos fetos, quando se aguardou
a perda de todas as funções do tronco cerebral,
que é o critério adotado de morte cerebral pela
medicina, realizando-se posteriormente as medidas para manter
a viabilidade dos órgãos, nenhum transplante obteve
bons resultados.
Antes que as funções
do tronco cerebral fossem perdidas poder-se-ia instituir o suporte
vital de modo a permitir a retirada dos órgãos,
quando a esperada morte acontecesse. Esta opção
mostrou-se impraticável. Apenas um, em seis, evoluiu com
morte cerebral no período considerado adequado no protocolo.
A única alternativa que
se mostrou viável foi a instalação, ao nascimento,
de suporte vital, com retirada dos órgãos ainda
em presença de funções do tronco cerebral.
Nesta situação a ética e a moral são
mais controversas. As principais propedêuticas utilizadas
para documentar a morte cerebral não são aplicáveis,
pois não há pontos para fixação dos
eletrodos do eletroencefalograma e a carótida inexiste
ou é muito hipoplásica.
Em termos de Doutrina Espírita
(O Livro dos Espíritos, 155-56) sabemos que, rompidos os
laços que retinham o espírito, ele se desprende,
mas não dispomos de exames para precisar o momento em que
isto aconteceu. O que podemos dizer é que o cérebro
está impossibilitado de satisfazer as eventuais expressões
do espírito. Por outro lado, algumas vezes, destaque de
Cardoso (4), na agonia a alma já pode ter deixado o corpo,
havendo apenas vida orgânica.
“Onde está, ó
morte, o teu aguilhão?
Onde está, ó inferno, a tua vitória?”
I Coríntios, 15: 55
Rocha (15) pergunta: que é vida, que
é morte? A própria ciência não é
capaz de definí-las com precisão. Cresce o interesse
no que diz respeito ao conceito mais exato de morte cerebral,
a partir da distinção que se faça do que
sejam vida intelectiva (ou vida inteligente) e vida orgânica.
É que esta última prossegue muitas vezes por algum
tempo, graças à presença do princípio
vital, que de pronto não se extingue tão logo cesse
a primeira. Em outras palavras, tanto o corpo pode ainda funcionar,
tendo a desencarnação já se efetivado, quanto
pode ocorrer a morte cerebral e o espírito não ter
ainda efetivado sua liberação total da carne (4)
O médico espírita
e a O.N.U. sabem que a ligação do espírito
à matéria se dá desde o momento da concepção
e é feita através do perispírito, corpo espiritual
fluídico. Sabe que o corpo, deficiente ou não, é
sempre valioso instrumento para a evolução do espírito
e que aquele que induz ou obriga ao aborto, ou o executa, é
responsável espiritualmente. Sabe ainda que o estuprador
apenas contribuiu para a formação de seu corpo físico,
sendo a criança inocente da ação agressora,
não devendo ser responsabilizada por ela, nem vir a sofrer
danos em conseqüência dela, muito menos perder seu
direito a vida, qualquer que seja o tempo que ela dure.
Sob o ponto de vista espiritual,
o médico espírita sabe, também, que um espírito,
que sofreu abortamento ou eutanásia, pode ficar imantado
à gestante em clima de mágoa. A gestante pode apresentar
lesões perispirituais na região do centro reprodutor
que foi usado incorretamente.
O leitor poderá ter uma
idéia destas questões examinando “um caso
clínico”, embora não de aborto. São
inúmeros os descritos na literatura médico-espírita,
fizemos a opção por um deles, porque os protagonistas
são companheiros que trabalham em pesquisa nos chamados
Centros de Ciências Biomédicas.
“Acerca dos dons espirituais,
não quero, irmãos, que sejais ignorantes.”
Corintios I, 12 . Paulo
O Professor da Faculdade de Medicina, Gilberto Perez Cardoso (5)
, relata uma cefaléia muito estranha que lhe ocorreu, embora
não seja dado a enxaquecas. Examinando desde uma inadequação
das lentes de seus óculos, passando pela possibilidade
de um tumor cerebral ou meningite, até chegar ao “piti”,
diminutivo de “pitiatismo”, o médico resolveu
consultar seus colegas, na época, mais experimentados da
Santa Casa, no Rio de Janeiro. Ampliou as doses dos analgésicos,
diminuiu os intervalos de tomada dos medicamentos, que na década
de 80 não deveriam ser falsificados. Entretanto, envolvido
pelo trabalho e pelos alunos, acabou adiando a intenção.
No dia seguinte, Gilberto também iria participar de uma
reunião espírita, onde são atendidas entidades
que estão passando por sofrimentos diversos ( lembram do
Marcondes, no C. E. Filhos de Deus?).
“A interdição
de evocar os mortos,
que vemos estabelecida por Moisés, foi geral na antiguidade.
O poder teocrático e o poder civil estavam muito intimamente
ligados
para que esta prescrição fosse severamente observada.
Não convinha que as almas dos mortos viessem contradizer
o ensinamento oficial dos padres e lançar a perturbação
entre os homens,
fazendo-os conhecer a verdade.”
Gabriel Dellane. “O Fenômeno
Espírita”, FEB
Na reunião manifesta-se uma entidade sofredora que transformou
o relato dos médiuns videntes num grande quebra-cabeça,
somente solucionado por Cardoso. O médico possuía
conhecimentos não disponíveis aos outros e que o
ligavam ao espírito enfermo e também à sua
“cefaléia muito estranha”. O caso é
narrado com detalhes no livro (5) que escreveu em parceria com
outro escritor e médium notável,
Newton Boechat.
“Mas a manifestação do espírito é
dada a cada um, para o que for útil.
Porque a um pelo espírito é dada a palavra da sabedoria;
e a outro a palavra da ciência,”
Paulo
Este caso é interessante por vários
motivos: primeiro por ter ocorrido com um paciente-médico
e por ser um dos médiuns videntes um outro professor de
medicina; segundo, porque uma cefaléia que maltratava o
paciente por 36 horas é substituída por sentimentos
de paz e bem estar logo ao início da reunião; terceiro,
porque a cefaléia se apresentou após um atendimento
realizado pelo médico na emergência do Hospital Rocha
Maia, em Botafogo, no Rio de Janeiro; quarto, porque o paciente
apresentava na cabeça, na região temporal direita,
extenso ferimento, de onde saiam sangue em abundância, massa
encefálica e fragmentos ósseos; quinto, porque a
entidade sofredora relatava o recente falecimento de seu pai e
ídolo, em condições desastrosas, o que o
levara a disparar o fuzil, à queima-roupa, de encontro
à cabeça, atingindo exatamente a região temporal
direita; sexto, porque os médiuns de nada sabiam, embora
descrevessem a extremidade do tubo endotraqueal a sair-lhe do
canto da boca.
O caso é muito rico e certamente
o leitor vai enumerar outras coincidências entre o atendimento
médico e o posterior atendimento espiritual. Como coincidentes
são os relatos das pessoas que tiveram morte clínica,
embora suas declarações não se vinculem a
influências da religiões, seitas, ocupação,
raça ou sexo.
O desavisado vai dizer que a dor
de cabeça do médico foi apenas uma questão
de influência por se ver envolvido num atendimento de emergência
em que os hemisférios cerebrais foram dilacerados. O “acaso”
tem sido muito solicitado para explicar a nossa ignorância.
O próprio médico não se esqueceu de evocar
esta questão, para o seu leitor, uma vez que sugeriu que
se fizesse o cálculo das probabilidades da ocorrência
de cada um dos eventos encontrados.
“E a outro, pelo mesmo espírito, a fé;
e a outro os dons de curar;
e a outro a profecia
e a outro, o dom de discernir os espíritos.”
Paulo
Na década de 70 com contribuição
da eletrônica foi feito o mapeamento dos meridianos da Acupuntura.
O mesmo mapeamento feito há mais de quatro mil anos pelos
médiuns videntes era absolutamente idêntico. Lembrou
de Nostradamus?
Cardoso pede que meditemos na
infinidade de dores-de-cabeça, cansaços, depressões,
astenias e achaques que podem se originar do Além. A extensa
gama da patologia energética humana, desconhecida ainda
da Ciência Oficial, está aí desafiando a argúcia
de clínicos e psiquiatras atuais. Até que a informação
possa chegar, por enquanto, muitos ainda vão esperar e
continuar a classificar, no laboratório, o bacilo diftérico
como difteróide ( 12 ) e outros, na precipitação,
vão diagnosticar como “piti” as patologias
“do outro mundo”, como disse Cardoso ( 5 ).
“Também Cristóvão
Colombo não foi tachado de louco, porque acreditava na
existência de um mundo, para lá do oceano? Quantos
a História não conta desses loucos sublimes, que
hão feito que a Humanidade avançasse e aos quais
se tecem coroas, depois de se lhes haver atirado lama? Pois bem!
o Espiritismo, a loucura do século dezenove, segundo os
que se obstinam em permanecer na margem terrena, nos patenteia
todo um mundo, mundo bem mais importante para o homem, do que
a América, porquanto nem todos os homens vão à
América, ao passo que todos, sem exceção
de nenhum, vão ao dos Espíritos, fazendo incessantes
travessias de um para o outro.
Galgado o ponto em que nos achamos
com relação à Gênese, o materialismo
se detém, enquanto o Espiritismo prossegue em suas pesquisas
no domínio da Gênese espiritual.”
(Kardec, A. 1868. A Gênese. Cap. X.Gênese
Orgânica. Pág. 203, ítem 30. FEB).
Deve ser doloroso, para o espírito,
ser retirado do corpo nas condições narradas anteriormente
por Cardoso (5)! Mas, não deve ser diferente verificar
que vai ser expulso através de meios, métodos ou
processos abortivos.
As nossas jovens estão
usando um abortivo químico que se não mata o feto
o deforma. E há coisa pior, porque se pessoas falsificam
os medicamentos anticancerosos, elas são capazes de fazer
o mesmo com qualquer outro. Já se tem conhecimento da venda
de um abortivo químico similar falso que esta rodeado de
perigos incomensuráveis para a usuária.
“Você não está sozinha!
Procuraremos juntos, a saída que você precisa.”
Ligue para nós: (021) 452-2266. CELD.
Valorizando o momento mais sublime da vida,
podemos entrar em contacto com o Núcleo de Valorização
da Gravidez do CELD, Centro Espírita León Denis.
O Núcleo oferece apoio emocional com objetivo de ouvir
com muito carinho, sem crítica ou condenação,
qualquer pessoa envolvida com a gravidez que esteja se sentindo
pressionada e só.
Ligue, todos os dias das 13 às
21 horas, ou vá conversar pessoalmente no mesmo horário,
de segunda a sábado, na rua Abílio dos Santos, 137
- Bento Ribeiro - Rio de Janeiro, RJ.
Não, Doutor! Matar? Nunca!
- Doutor, parece que estou com
barriga d’água...
O médico olhou silenciosamente
a pobre cliente e respondeu meio sério e meio sorridente:
- Dona Ana...
- Doutor, se não for barriga
d’água, então é menino. Chico já
disse hoje que é menino.
- Na sua idade, Dona Ana, como
é que a senhora e “seu” Chico deixaram isso
acontecer? Já tiveram uma filha com hidrocefalia, têm
onze filhos, enfrentam uma trabalheira sem fim. E, com essa recessão
enorme, nesse nosso país desses anos trinta, a pobreza
fica ainda maior.. Já disse uma vez que filho de mãe
velha nasce destrambelhado...
- Não, Doutor! Matar? Nunca!
Chico está viajando aqui e ali. Nada vai faltar pra gente,
se Deus quiser!
- Quem falou em matar, Dona Ana?
Vá em paz esperar a sua hidropsia...
- Hidro o quê, Doutor?
- É barriga d’água,
Dona Ana. A senhora ficará livre dela em nove meses.
Nove meses depois nascia, às
cinco horas da manhã, do dia 5 de maio, um menino que recebeu
o nome de Divaldo Pereira Franco.
(Espelho, R.R. A Revelação Da Chave. E. E. Mensagem
de Esperança, Capivari, SP. Pág. 80.)
Como fica um “espírito
abortado” ao se ver impedido de “vir
à vida na matéria” nestas condições?
André Luiz narra um caso
para que possamos compreender a extensão da tragédia.
Era uma jovem “criada com mimos excessivos, que se desenvolveu
na ignorância do trabalho e da responsabilidade, não
obstante pertencer a nobilíssimo quadro social. Adquiriu
os deveres da maternidade sem a custódia do casamento.
Reconhecendo-se nesta situação, aos vinte e cinco
anos, solteira, rica e prestigiada pelo nome da família,
deplora tardiamente os compromissos assumidos e luta, com desespero,
por desfazer-se do filhinho...
A jovem valeu-se de drogas e do
auxílio de uma “enfermeira”.
O espírito, vendo a reencarnação
frustrada, luta e se transforma em verdugo do psiquismo materno.
André Luiz descreve a “guerra” :
“premindo o ninho de vasos do útero, precisamente
na região onde se efetua a permuta dos sangues materno
e fetal, provocou ele o processo hemorrágico, violento
e abundante.”
A enfermeira desesperada corre
a procura de socorro.
(Francisco C. Xavier. No Mundo Maior. Capítulo 10 - A dolorosa
perda. FEB.)
“Não será
melhor a coroa de espinhos na fronte do que o monte de brasas
na consciência?”
A medicina oficial não
tem colocado à mostra as seqüelas físicas e
psíquicas trazidas à mãe que pratica o aborto,
mesmo nas sociedades em que ele é permitido, é o
que diz o “Manifesto Contra O Aborto”, que foi enviado
em 14/3/1994, ao Relator da Revisão Constitucional no Congresso
Nacional. Ele é assinado pela Federação Espírita,
União das Sociedades Espíritas e Associação
Médico-Espírita todas de São Paulo.
A Doutrina Espírita ensina
que a matéria é o instrumento de que o espírito
se serve e sobre o qual exerce sua ação. O espírito
encarna para cumprir desígnios divinos e, ao mesmo tempo,
vai se desenvolvendo intelectual e moralmente, através
de provas e expiações que a vida terrena lhe enseja.
Viver é o primeiro de todos os direitos naturais do homem.
“As Vozes do Céu” ensinaram, a Allan Kardec
e ele registrou em “O Livro dos Espíritos”,
que “ninguém tem o direito de atentar contra a vida
do seu semelhante, nem de fazer o que lhe quer que possa comprometer
a existência.
Kardec “OBRIGOU OS MAIS FAMOSOS CIENTÍSTAS DO SÉCULO
XIX A COLOCAR DE LADO A SUAS PREOCUPAÇÕES COM A
MATÉRIA PARA DESCOBRIR E PROVAR A EXISTÊNCIA DO ESPÍRITO,
COMO ACONTECEU COM CROOKES, RICHET, AKSAKOF, OCHOROWICZ, ZOLLNER,
E TANTOS OUTROS. EM NOSSO SÉCULO FORÇOU RHINE E
McDOUGAL A DESENVOLVER NA PARAPSICOLOGIA AS SUAS PESQUISAS...
( URBANO DE ASSIS XAVIER, 1946 ).
Matar o feto com diagnóstico
de anomalia é um delito contra o direito à vida
e contra o caminho redencional do espírito.
“Se eu quiser falar com
Deus tenho que me aventurar,
tenho que subir aos céus sem cordas pra segurar...”
(Gil)
O transplante só oferece bons resultados
com a retirada dos órgãos ainda em presença
de funções do tronco cerebral ( 11 ). Considerando
a ética e a moral, o que fazer?
Aqui temos três alternativas:
a) alterar a definição de óbito, b) criar
uma categoria legal especial para anencéfalos ou c) exclusão
dos anencéfalos do conceito de pessoa (ser humano).
Qual lhe parece mais perto da
ética “espírita “?
Já pensou?
Podemos continuar?
A responsabilidade pelas qualidades
humanas de consciência, personalidade e integração
social não podem ser colocadas no tronco, uma vez que ele
só controla as funções vegetativas. Assim
poderíamos enquadrá-los em uma categoria legal equivalente
à morte cerebral. Como há ausência da formação
do cérebro superior e não havendo sofrimento, dor
ou consciência, poderíamos excluir os anencéfalos
do conceito de pessoa.
Que tal os raciocínios?
São coerentes? Alguma dúvida? Sim! Então
releia com calma.
A criação de uma
categoria legal de exceção traz consigo o risco
de que esse procedimento abra precedente para o surgimento de
outras categorias de exceção. Poder-se-ia desvirtuar
a idéia original e abranger também grupos para os
quais essa medida seria eticamente menos aceitável. Não
sendo considerados como pessoa esses anencéfalos perderiam
todos os direitos, inclusive o de ser protegido contra a experimentação
em seres humanos e poderiam eventualmente ser utilizados para
outros propósitos, escusos ou não.
Já fizeram a denúncia
de que num país desenvolvido, onde foi liberado o aborto,
os fetos foram vendidos para experiências. As crianças
não registradas como nascidas e que estavam oficialmente
mortas eram mantidas vivas. A denúncia falou em testes
de curas de doenças como leucemia, etc.
É claro que você
não acredita que possam existir pessoas tão inteligentes
e cruéis!
Parece que a solução
é a alteração do conceito de morte.
Você vê algum problema
nesta alteração?
Contra ela pesam dois argumentos
principais: é possível que, com a mudança
na definição de morte cerebral, haja desconfiança
da população na capacidade médica de diagnosticar
os casos de óbito e a imprecisão do critério
poderia ser estendida a outros grupos de pacientes, como, por
exemplo, os portadores de severo retardo mental ou comatosos.
O médico, no Brasil, não
teve muito que se preocupar com esse tipo de problema, uma vez
que não temos conhecimento de serviços de transplantes
envolvidos nesta tentativa. Mas, este é um tema para discussões
espíritas, pois é rico de questões médicas,
morais, legais e sobretudo religiosas.
O Brasil é um país
“paradoxal”, apresenta os avanços encontrados
no primeiro mundo, mas convive com doenças do terceiro.
Chegamos a ter a maior casuística do mundo em implantes
de marcapasso cardíaco em doença infecciosa (12),
da era colonial americana, que é prevenida por vacinação.
Há problemas ou avanços encontrados nos países
desenvolvidos que nos trazem questões de ética médica
(3, 4, 7, 8, 10, 11, 14, 15,16).
Anteriormente quando discutimos
a questão da eutanásia, em “Dores, Valores,
Tabus e Preconceitos”, concluímos que era difícil
conciliar uma medicina que cura com uma medicina que mata.
“a melhor maneira de se medir
a licitude de uma ação
é imaginá-la como regra geral.
Caso se concluisse pela negativa,
a ilicitude seria manifesta.”
Kant
“Para que a liberdade seja fecunda,
assevera León Denis, para que ofereça às
boas obras humanas uma base segura e duradoura, deve ser aureolada
pela luz, pela sabedoria, pela verdade. A liberdade, para homens
ignorantes e viciosos, não será como arma poderosa
entre as mãos de uma criança? A arma, nesse caso,
volta-se muitas vezes contra aquele que a traz, e o fere.”
Lembramos que o Ministério da Saúde adverte: “fumar
faz mal à saúde.” A farmacodependência
é um grande problema para a América Latina e o álcool
é uma droga socialmente aceita, como o fumo.
Imagine o aborto legalizado e
nas mãos de todos os interesses: político, eugênico,
econômico e outros.
Aborto não pode ser votado
sem uma profunda reflexão.
Justificando-se o aborto eugênico,
a eutanásia passa a ser aceita naturalmente. Eugenia é
o ramo da Ciência que se ocupa da procriação
de filhos normais e estuda os meios para melhorar a raça.
O aborto eugênico é aquele que não necessariamente
implique impossibilidade de vida extra-uterina, significando apenas
uma redução significativa do patamar da capacidade
de adquirir e compartilhar humanidade. Entendeu porque a eutanásia
passa a ser aceita naturalmente?
A Bioética está
hoje pressionada por um conceito materialista a respeito do significado
da vida.
Uma conseqüência grave
da permissão do aborto por lei é a insensibilidade
social.
O aborto eugênico, com enfoque
sociológico, vem sendo aceito em diversos países
com a justificativa do aprimoramento da raça, diminuição
da problemática familiar e social. Fala-se nesse aborto
dando-lhe conotação de “terapêutico”.
Em favor de quem? Alguém já disse que “na
criança honramos a humanidade e sobretudo a criança
deficiente física ou mental é caso-teste de respeito
para com todo o gênero humano”.
Neste particular há uma
Instituição, no Rio de Janeiro, que honra a humanidade.
Estamos falando da Ação Cristã Vicente Moretti,
na rua Maravilha, 308. Bangu. Telefone 401-9533 e fax 401-9643.
Vá visitá-la para ver o que significa o respeito
pelo ser humano deficiente.
No dia 13 de maio foi lançado
o Programa Nacional dos Direitos Humanos, que estabelece desafios
concretos ao governo na área da expansão dos direitos
da cidadania. Diz Souza, J. (JB, p.11, 29 de maio de 1996) que
o fato da escolha da data do lançamento ter caído
sobre o dia da Abolição da escravatura não
lhe pareceu casual. A manutenção da situação
enfrentada no país, de divisão entre supercidadãos
com todos os direitos e subcidadãos sem nenhum direito,
é fruto direto de persistências da “obra da
escravidão”, e nos serve para lembrar que a luta
pelos direitos humanos é obra comum. A injustiça
não atinge apenas quem a sofre diretamente, mas a todos
que compartilham do mesmo contexto.
“Helga e Rachel cresceram
juntas (2). Eram muito amigas, embora a família de Helga
fosse cristã e a de Rachel, judia. Por muitos anos essa
diferença não teve muita relevância na Alemanha.
Entretanto, depois que Hitler assumiu o poder a situação
mudou. Ele exigiu que os judeus usassem braçadeiras com
a estrela-de-Davi e passou a encorajar seus seguidores a destruirem
as propriedades dos judeus e, até mesmo, a maltratá-los
nas ruas. Finalmente, começou a prender judeus e a deportá-los.
Havia rumores pela cidade de que muitos judeus estavam sendo mortos.
Esconder judeus procurados pela Gestapo ( polícia secreta
de Hitler) era um crime grave e constituía violação
de uma lei do governo alemão. Uma noite, Helga ouviu baterem
à porta. Quando a abriu, viu Rachel na escada, envolta
num casaco escuro. Rapidamente Rachel entrou. Ela contou que fora
a uma reunião, e, ao retornar, viu membros da Gestapo rondando
a casa. Seus pais e seus irmãos haviam sido levados. Sabendo
do seu destino caso a Gestapo a apanhasse, Rachel correu para
casa de sua grande amiga.
Que deveria Helga fazer? Se mandasse
Rachel embora, a Gestapo por certo a encontraria. Helga sabia
que a maioria dos judeus estava sendo morta, e não queria
que isso acontecesse com sua melhor amiga. Porém, abrigar
os judeus era contra a lei. Helga estaria arriscando sua própria
segurança e a de sua família se tentasse esconder
Rachel. Mas, havia em casa de Helga um pequeno quarto atrás
da chaminé, no terceiro andar, onde Rachel poderia ficar
a salvo.
Deveria Helga esconder Rachel?”
“O homem constrói a
primeira cidade (civitas), de onde nasceu a palavra civilização
e, desde então, com a vida em sociedade, começa
a vida moral.”
Denis
Quando desenvolvemos o intelecto somos capazes
de saber se uma ação é boa ou má,
mas a escolha do caminho a tomar depende do desenvolvimento do
domínio afetivo. “Ciência e razão somente
não serão capazes de enxugar lágrimas vertidas
pelo coração”. As duas asas simbólicas
da ética são representadas pela sabedoria e pelo
amor. Sem uma delas sociedade alguma poderá voar a planos
mais altos e ser considerada evoluída e nenhum planeta
poderá chegar à condição de regenerado.
A professora Dyla T.S. Brito,
doutora em Educação pela Universidade da Califórnia
(UCLA), cita Kohlberg para descrever os seis estágios do
desenvolvimento moral. Estes estágios, abaixo colocados,
que podem corresponder a três níveis podem ser brevemente
assim descritos:
Estágio1. As conseqüências
físicas de uma ação determinam se ela é
boa ou má. Os motivos morais são baseados no desejo
de evitar punição.
Estágio 2. O argumento
“certo” é aquele que satisfaz as próprias
necessidades da pessoa e, às vezes, as necessidades de
outros. Elementos de igualdade e reciprocidade podem estar presentes,
mas sempre por motivos pragmáticos e não por uma
questão de lealdade, gratidão ou justiça.
Reciprocidade, neste nível, significa: “Se ele me
bate, eu bato nele.”
Estágio 3. As pessoas demonstram
necessidade de evitar a reprovação e o desagrado
dos outros. Freqüentemente, elas se atêm a idéias
estereotipadas sobre o comportamento da maioria em seu grupo e
tendem a se comportar como uma pessoa “bem educada”.
Segundo Kohlberg, é neste estágio que a intenção
torna-se importante pela primeira vez.
Estágio 4. A pessoa mostra
respeito pela autoridade, pelas regras fixas e pela manutenção
da ordem social.
Estágio 5. Demonstra respeito
pelos direitos individuais. A obrigação é
baseada no livre acordo. Há valorização do
ponto de vista legal, mas acredita-se que a lei pode ser mudada
em função de considerações sobre sua
utilidade social.
Estágio 6. As decisões
da pessoa são guiadas por princípios éticos
selecionados por ela própria, como justiça, reciprocidade,
igualdade e respeito pela dignidade do ser humano (2 ).
“É na revelação das Leis Morais que
reside a
verdadeira grandeza do Espiritismo.
Os fenômenos espíritas são um prólogo
da lei moral.
Embora muito imperfeitamente, comparemo-los à casca revestindo
o fruto:
inseparáveis em sua gestação, têm,
entretanto, um valor muito diferente.”
León Denis. “Depois da Morte”,
nona edição, pág.304. FEB
Em 1857, Allan Kardec publicou “O Livro dos Espíritos”.
Ele apresentada didaticamente, mais de mil questões propostas
pelo codificador e respondidas pelas “Vozes dos Céus”.
Vamos examinar alguns trechos de algumas respostas
oferecidas, entre os números 778 e 802. Sugiro ao leitor
marcar os pontos que concordam ou discordam, do que foi descrito
nos estágios acima.
Pode o homem retrogradar para
o estado de natureza?
“Não, o homem tem
que progredir incessantemente e não pode volver ao estado
de infância. Mas, nem todos progridem simultaneamente e
do mesmo modo. Dá-se então que os mais adiantados
auxiliam o progresso dos outros, por meio do contacto social.”
O progresso moral acompanha sempre
o progresso intelectual?
“Decorre deste, mas nem
sempre o segue imediatamente. O progresso intelectual engendra
o moral, fazendo compreensíveis o bem e o mal. O homem,
desde então, pode escolher. O desenvolvimento do livre
arbítrio acompanha o da inteligência e aumenta a
responsabilidade dos atos.”
Como é, nesse caso, que,
muitas vezes, sucede serem os povos mais instruídos os
mais pervertidos também?
“O progresso completo constitui
o objetivo. Os povos, porém, como os indivíduos,
só passo a passo o atingem. Enquanto não se lhes
haja desenvolvido o senso moral, pode mesmo acontecer que se sirvam
da inteligência para a prática do mal. O moral e
a inteligência são duas forças que só
com o tempo chegam a equilibrar-se.”
Tem o homem o poder de paralisar
a marcha do progresso?
“Não, mas tem, às
vezes, o de embaraçá-la.”
Bastante grande é a perversidade
do homem. Não parece que, pelo menos do ponto de vista
moral, ele, em vez de avançar, caminha aos recuos?
“Observa bem o conjunto
e verás que o homem se adianta, pois que melhor compreende
o que é mal, e vai dia a dia reprimindo os abusos.”
Qual o maior obstáculo
ao progresso?
“O orgulho e o egoísmo.
Refiro-me ao progresso moral, porquanto o intelectual se efetua
sempre. A primeira vista, parece mesmo que o progresso intelectual
reduplica a atividade daqueles vícios, desenvolvendo a
ambição e o gosto das riquezas, que, a seu turno,
incitam o homem a empreender pesquisas que lhe esclarecem o Espírito.”
“Bem aventurados os humildes de espírito,
porque deles é o reino dos céus.”
Mateus, 5
“Há duas espécies de progresso, o intelectual
e o moral. Entre os povos civilizados, o primeiro tem recebido
todos os incentivos. Muito falta para que o segundo se ache no
mesmo nível. Entretanto, comparando-se os costumes
sociais de hoje com os de alguns séculos atrás,
só um cego negaria o progresso realizado. Ora, sendo assim,
por que haveria essa marcha ascendente de parar, com relação,
de preferência, ao moral, do que com relação
ao intelectual?”
“O homem, fisicamente, materialmente,
é como uma planta que se desenvolve naturalmente,
em virtude das leis universais,
porém, intelectualmente e moralmente ele se cria por si
mesmo.”
Denis
O progresso fará que todos os povos
da Terra se achem um dia reunidos, formando uma só nação?
“Uma nação
única, não; seria impossível, visto que da
diversidade dos climas se originam costumes e necessidades diferentes,
que constituem as nacionalidades, tornando indispensáveis
sempre leis apropriadas a esses costumes e necessidades. A
caridade, porém, desconhece latitudes e não distingue
a cor dos homens. Quando, por toda parte, a lei de Deus servir
de base à lei humana, os povos praticarão entre
si a caridade, como os indivíduos. Então, viverão
felizes e em paz, porque nenhum cuidará de causar dano
ao seu vizinho, nem de viver a expensas dele.” A Humanidade
progride, por meio dos indivíduos que pouco a pouco se
melhoram e instruem. Quando estes preponderam pelo número,
tomam a dianteira e arrastam os outros. De tempos a tempos, surgem
no seio dela homens de gênio que lhe dão um impulso;
vêm depois, como instrumentos de Deus, os que têm
autoridade e, nalguns anos, fazem-na adiantar-se de muitos séculos.
O progresso dos povos também
realça a justiça da reencarnação.
Louváveis esforços empregam os homens de bem para
conseguir que uma nação se adiante, moral e intelectualmente.
“Bem aventurados os mansos, porque
herdarão a Terra.”
Mateus, 5
Por que indícios se pode reconhecer uma civilização
completa?
“Reconhecê-la-eis
pelo desenvolvimento moral. Até então, sereis apenas
povos esclarecidos, que hão percorrido a primeira fase
da civilização.
De duas nações que
tenham chegado ao ápice da escala social, somente pode
considerar-se a mais civilizada, na legítima acepção
do termo, aquela onde exista menos egoísmo, menos cobiça
e menos orgulho; onde os hábitos sejam mais intelectuais
e morais do que materiais; onde a inteligência se puder
desenvolver com maior liberdade; onde haja mais bondade, boa-fé,
benevolência e generosidade recíprocas; onde menos
enraizados se mostrem os preconceitos de casta e de nascimento,
onde as leis nenhum privilégio consagrem ; onde com menos
parcialidade se exerça a justiça; onde a vida do
homem, suas crenças e opiniões sejam melhormente
respeitadas; onde exista menor número de desgraçados;
enfim, onde todo homem de boa-vontade esteja certo de lhe não
faltar o necessário.”
Poderia a sociedade reger-se unicamente
pelas leis naturais, sem o concurso das leis humanas?
“Poderia, se todos as compreendessem
bem. Se os homens as quisessem praticar, elas bastariam. A sociedade,
porém, tem suas exigências. São-lhe necessárias
leis especiais.”
“O direito de alguns tornou-se
o direito de todos;
mas, para que o direito soberano seja conforme com a justiça
e produza seus frutos,
é necessário que o conhecimento das leis morais
venha regular o seu exercício.”
Denis
Qual a causa da instabilidade das leis humanas?
“Nas épocas de barbaria,
são os mais fortes que fazem as leis e eles as fizeram
para si. A proporção que os homens foram compreendendo
melhor a justiça, indispensável se tornou a modificação
delas. Quanto mais se aproximam da vera justiça, tanto
menos instáveis são as leis humanas.
A civilização criou
necessidades novas para o homem, necessidades relativas à
posição social que ele ocupe. Tem-se então
que regular, por meio de leis humanas, os direitos e deveres dessa
posição. Mas, influenciado pelas suas paixões,
ele não raro há criado direitos e deveres imaginários,
que a lei natural condena e que os povos riscam de seus códigos
à medida que progridem. A lei natural é imutável
e a mesma para todos; a lei humana é variável e
progressiva. Na infância das sociedades, só esta
pode consagrar o direito do mais forte.”
“Bem aventurados sois quando,
por minha causa, vos injuriarem e vos perseguirem e, mentindo,
disserem todo mal contra vós.”
Mateus, 5
No estado atual da sociedade, a severidade das leis penais
não constitui uma necessidade?
“Uma sociedade depravada
certamente precisa de leis severas. Infelizmente, essas leis mais
se destinam a punir o mal depois de feito, do
que a lhe secar a fonte. Só a educação poderá
reformar os homens, que, então, não precisarão
mais de leis tão rigorosas.”
“Juiz manda Naya indenizar
logo moradores do Palace II.”
O acordo de indenização
de 11 moradores do edifício Palace II, que desabou em fevereiro
matando oito pessoas, no Rio de Janeiro, terá que ser cumprido
até 31 de agosto pelo ex-deputado Sérgio Naya, dono
da Construtora Sersan. A decisão foi tomada ontem pelo
juiz Rogério de Oliveira Souza, da vigésima Vara
Cívil do Rio. Se Naya não pagar, poderá ser
decretada intervenção judicial em suas impresas.
(O Globo, terça-feira, 4 de agosto de 1998, página
15).
A Filosofia Espírita de
Educação passa pela valorização da
busca incessante da verdadeira realidade do ser multidimencional,
perseguindo as condições que favoreçam a
perfectibilidade relativa possível em tempo menor. O exercício
da razão, apoiada no sentimento, é o seu método
e seus dois preceitos fundamentais prevê o desenvolvimento
harmonioso entre os domínios cognitivos e afetivo (Amai-vos
e Instrui-vos). No processo de educação dos espíritos,
num planeta ainda de provas e expiações, há
a coexistência de livre-arbítrio e determinismo.
Na medida que avançamos conquistanto créditos, vamos
verificando o aumento de um (livre-arbítrio) em detrimento
do outro (determinismo). Espíritos primários construimos
e reencarnamos numa sociedade egoísta, onde encontramos
toda sorte de desigualdades sociais, injustiças, violências,
etc., o que por sua vez favorece frustrações, sofrimentos
e dores diversas.
A proposta da Educação
é a produção de homens voltados para o bem,
que transformarão as Instituições humanas.
Daí ser fundamental o estudo do homem, levando ao autoconhecimento,
desenvolvendo valores éticos-morais que irão libertando
o espírito da influência da matéria e conduzindo-o
à verdadeira felicidade. O espírito torna-se herdeiro
de si mesmo, arquiteto do próprio destino, extraindo das
suas conquistas e derrotas a experiência necessária
a libertação espiritual.
De que maneira pode o Espiritismo
contribuir para o progresso?
“Destruindo o materialismo,
que é uma das chagas da sociedade, ele faz que os homens
compreendam onde se encontram seus verdadeiros interesses. Deixando
a vida futura de estar velada pela dúvida, o homem perceberá
melhor que, por meio do presente, lhe é dado preparar o
seu futuro. Abolindo os prejuízos de seitas, castas e cores,
ensina aos homens a grande solidariedade que os há de unir
como irmãos.”
Por que não ensinaram os Espíritos,
em todos os tempos, o que ensinam hoje?
“Não ensinais às crianças
o que ensinais aos adultos e não dais ao recém-nascido
um alimento que ele não possa digerir. Cada coisa tem seu
tempo. Eles ensinaram muitas coisas que os homens não
compreenderam ou adulteraram, mas que podem compreender agora.
Com seus ensinos, embora incompletos, prepararam o terreno para
receber a semente que vai frutificar.”
“Irmãos, não
sejais meninos no entendimento,
mas sede meninos na malícia e adultos no entendimento”
(I Coríntios, 14:20)
“Com
leite vos criei, e não com manjar,
porque ainda não podíeis, nem tão pouco ainda
agora podeis...”
I Coríntios, 3:2
Por que os espíritos não
apressam esse progresso, por meio de manifestações
tão generalizadas e patentes, que a convicção
penetre até nos mais incrédulos?
“Desejaríeis milagres;
mas, Deus os espalha a mancheias diante dos vossos passos e, no
entanto, ainda há homens que o negam. Conseguiu, porventura,
o próprio Cristo convencer os seus contemporâneos,
mediante os prodígios que operou?
Em sua bondade, Deus lhes deixa
o mérito de se convencerem pela razão.”
“O progresso é a aspiração
pelo melhor, pelo belo;
é a prova da existência em nós de um princípio
superior,
de alguma coisa grandiosa, quase divina,
que nos encaminha para destinos mais altos,
que nos lança sempre para frente,
nos domínios do pensamento e da consciência.”
Denis
Você ainda se lembra dos seis estágios
do desenvolvimento moral?
Brito (1) informa que os estágios
são universais, pois estudos transculturais efetuados por
Kohlberg indicaram que a seqüência dos estágios
se mantém sob diferentes condições culturais,
embora os dois últimos estágios não se desenvolvam
claramente em comunidades primitivas. Os estágios, ainda,
são hierárquicos, isto é, não é
possivel atingir-se um estágio mais alto sem haver passado
pelos precedentes. A pessoa pode estacionar em qualquer estágio,
mas, se retomar seu desenvolvimento, deverá fazê-lo
degrau por degrau, sem saltos.
Acredito que a conclusão
do educador não se afasta da resposta obtida por Kardec
na questão 778. Kohlberg diz que “as mudanças
no desenvolvimento moral são irreversíveis: se um
indivíduo atinge um estágio mais elevado, nunca
voltará a um estágio inferior.”
Este enfoque, denominado cognitivo-desenvolvimentista,
que assume que o indivíduo é capaz de auto-aperfeiçoamento,
parece entrar em choque com o pensamento comportamentista, onde
o desenvolvimento moral compreende a internalização
de normas e valores culturais através de reforço
e imitação de modelos. No entanto, não
parece ser útil considerá-los como mutuamente exclusivos.
Uma questão feita por Kardec
(de número 625) foi respondida lembrando o reforço
e a imitação de modelos. Mas na 624 ele indaga sobre
o carácter do verdadeiro profeta. A resposta é pequena,
mas significativa: “o verdadeiro profeta é um homem
de bem inspirado por Deus. Pode-se reconhecê-lo por suas
palavras e por suas ações. Deus não pode
se servir da boca do mentiroso para ensinar a verdade.”
Qual é o tipo mais perfeito,
que Deus ofereceu ao homem para lhe servir de guia e de modelo?
A resposta fala de altos níveis no dominio cognitivo e
afetivo, mas sobretudo no patamar mais alto, o da “Consciência
Cósmica”. É a mais breve: “Jesus”.
“Ninguém pode negar a beleza dos seus ensinos.
E, mesmo que alguns desses ensinos tenham sido apresentados antes,
a verdade é que ninguém os expressou tão
divinamente como Ele.”
Einstein
Os escribas e fariseus Lhe trouxeram uma mulher que havia sido
apanhada em adultério e pediam sua opinião. Na realidade
queriam apenas um pretexto para acusá-lo. Se Ele opinasse
pelo apedrejamento, para dar cumprimento a Lei de Moisés,
estaria indo contra seus próprios ensinamentos de amor,
perdão, caridade. Se dissesse que a mulher não deveria
receber castigo tão severo, estaria indo contra a lei mosaica.
É aqui que entra a autoridade moral, a inteligência
emocional, associada ao mais alto nível do domínio
cognitivo.
Ele havia dito que não
veio destruir a lei ou aos profetas e sim dar-lhe cumprimento.
Lavaria as mãos? Mas, e a caridade? O que fêz? Ele
argumentou e evitou o apedrejamento.
A reflexão fê-los
perceber a magnitude da resposta. A viagem interior retrospectiva
levou o grupo a dispersar-se. É o momento de transição
entre a consciência de sono e a consciência desperta.
É o salto para órbitas mais altas, para níveis
mais elevados.
Para Kohlberg, citado por Brito
(2) o desenvolvimento moral envolve seis estágios, correspondendo
a três níveis: 1. Nível pré-convencional
(estágios 1 e 2); 2. Nível convencional (estágios
3 e 4); 3. Nível pós-convencional, como descrito
anteriormente.
Repetimos, os estágios
são universais e hierárquicos: estudos transculturais
indicaram que a seqüência dos estágios se mantêm
sob diferentes condições culturais, embora os
dois últimos estágios não se desenvolvam
claramente em comunidades primitivas.
Por outro lado, não é
possível atingir-se um estágio mais alto sem haver
passado pelos precedentes. Outra observação, extremamente
importante, é que as mudanças no desenvolvimento
moral são irreversíveis, a pessoa nunca mais será
a mesma, nunca voltará a um estágio inferior. Jesus
sabia e por isso dialogou com a mulher, fazendo o reforço
da ação pedagógica. E, ela nunca mais pode
esquecê-lo.
Foi assim com Saulo de Tarso,
que aproveitou o momento. Com Kardec foi assim também,
veja o resultado que é “O Evangelho Segundo O Espiritismo”.
A autoridade da sentença
está na razão da autoridade moral do juiz que a
pronuncia.
“Quem atirou a primeira pedra?
Você foi contra ou a favor do aborto, quando
perguntado na primeira vez?
Lembra-se da questão central e do Antonio
M. Martins, ex-leproso do outro lado da fronteira, dizendo-me
que “experiência vivida não podia ser transmitida”?
Pois bem, a vida nos coloca em situações
onde temos que tomar decisões difíceis. O que é
legal pode não ser moral.
Por isso no estágio 5 acredita-se que a
lei pode ser mudada em função de considerações
sobre a sua utilidade social. No entanto, quem está num
estágio inferior pode querer uma lei que atenda a sua visão
ainda nublada pela consciência que dorme. Nicodemos era
doutor da lei, mas não entendeu quando Jesus falou das
coisas de nascer de novo. O Doutor tinha nível baixo e
pensou num homem velho e num velho útero. Ele não
conseguiu perceber que o ser evolui em etapas na matéria
, a persona, e fora da matéria, o espírito.
Ninguém voltou para nos contar como é
a vida fora do plano físico, diz o desinformado. São
inúmeros os depoimentos que passaram pelo crivo do bisturí
da Ciência. O espírito volta e se reconhece a persona.
Humberto de Campos escreveu um artigo a Agripino Griecco, na frente
do próprio crítico, que não pode deixar de
declarar: “Como, eu não sei, mas que era Humberto
não há dúvida!”
Quando o homem subiu vários degráus
do desenvolvimento moral ele é capaz de declarar: “Como,
eu não sei, mas...”
Chico Xavier tem feito muitas mães, que
choram de saudade, chorarem de alegria!
Lembro, agora, do apelo feito pelo Dr. Leyeune:
“gostaria que as pessoas consideradas normais, cada vez
que encontrassem um portador da Síndrome de Down, acreditassem
nele. Não há gente mais sincera no mundo em que
vivemos”.
O professor Jérome Leyeune foi convidado
a participar de um Congresso de Medicina Fetal no Brasil. Os conferencistas
ingleses e franceses organizaram um boicote e ele teve a palavra
cassada. Sua crítica ao aborto é uma afronta à
vertente materialista da ciência. Indagado sobre
o problema ele disse que: “é uma profunda intolerância,
que nega os pricípios de democracia e de liberdade, princípios
que os próprios defensores do aborto utilizam como argumento
para justificá-lo”.
“Bem aventurados os perseguidos por causa da justiça,
porque deles é o reino dos céus.”
Mateus, 5
A presença do médico na televisão
francesa é tacitamente proibida, porque ele afirma que
“sugerir que se elimine este ou aquele ser humano, porque
possui uma anomalia, é um comportamento racista”.
“O aborto resolve o problema dos pais, não dos filhos”.
Já de posse da medicina
do terceiro milênio ele afirma: “Um feto é
sempre um feto. Se ele é doente, devemos estar a seu serviço,
e não ajudá-lo a morrer”.
Leyeune “foi” despedido
por Justa Causa, porque sabe que a Causa é Justa. Nesses
momentos de decisão é que temos a dimensão
da nossa estatura evolutiva.
As almas dos homens que já
viveram na Terra voltam a nos alertar. Agora é Victor
Hugo escreve “Do Abismo Às Estrelas”
dizendo em seu prefácio (25/12/1974):
“No momento em que a eutanásia
é justificada por eminentes sacerdotes da Medicina, ganhando
manchetes sensacionalistas nos periódicos do mundo; durante
a vigência de leis que legalizam o aborto em diversos
países civilizados da Terra; quando a França encaminha
ao Senado um projeto para a interrupção legal
da gestação até dez semanas após
a concepção sob aplauso da Câmara dos Deputados
e o entusiasmo de homens e mulheres ilustres, revogando a Lei
de 1920 que o condenava, e favorecendo o infanticídio;
diante da audácia humana que pretende negar à
posteridade o direito de nascer ou de renascer na escola terrena,
é impossível silenciar as conseqüências
que defluem de tais ignóbeis atitudes, desgraçando
os seus autores antes como depois da desencarnação.
Amordaçar a verdade é
compactuar com o crime e a mentira.
Aplaudir o erro somente porque
este recebe o transitório aval dos homens significa conspurcar
a dignidade individual e enxovalhar a inteligência e a
cultura da Humanidade.
Por tais razões escrevemos
este livro, pensando nos milhões de criaturas que derrapam
na direção de graves, desditosos compromissos
por falta de advertência oportuna e de segura diretriz
a fim de que perseverem no áspero e reto cumprimento
dos deveres em relação a si mesmos, à sociedade
e à vida.
A quantos se encontram em tal
encruzilhada de incertezas e indecisões dedicamos esta
Obra.
(Salvador, Livraria Espírita Alvorada,
1975,.323 p.)
Na Alemanha em 1939, professores
e psiquiatras decidiram que se devia matar pessoas defeituosas,
justificando que eram vidas que não valeriam a pena serem
vividas. Seis anos depois a insensibilidade era tanta e o valor
da vida caíra tanto que pediatras, nos hospitais-escola,
estavam matando crianças que urinavam na cama, que tinham
orelhas mal formadas ou incapacidade de aprender. Estas e outras
desvalorizações da vida, criando seres de segunda
categoria, originaram os campos de concentração
e os incineradores humanos.
“Não lembramos todas
essas coisas com o objetivo de reavivar ódios extintos.
Não, ódio não temos mais.
Devemos alertar os homens que preconizam as instituições
da Idade Média, que as elogiam e que, se pudessem, fariam
renascê-las.
Com a mão sobre a História, devemos responder e
dizer uma coisa: a verdade!.”
Denis
Gostaria de terminar voltando
à questão inicial.
Deve-se aceitar o aborto
para “salvar a vida” da gestante HIV-positiva,
grávida pelo estupro?
Um profissional da área
de saúde, bem informado e pertencente à vertente
espiritualista da ciência, certamente responderia dizendo
que esta é uma matéria sem resposta definitiva,
no que diz respeito à influência da sorologia positiva
no processo gestacional e da própria saúde do feto.
Não existe nenhum argumento ético, jurídico
ou técnico, capaz de fundamentar a interrupção
de uma gravidez numa mulher soro-convertida ou mesmo já
doente de Aids, a não ser que suas condições
de saúde sejam agravadas pela gestação, que
cessada a gravidez cesse o perigo e que não haja outro
meio de salvar-lhe a vida.
No naufrágio você e a filha se separam.
As ondas as afastam. De repente uma criança agarra-se a
você... E, você decide!