Em comemoração aos 12
anos do GEAE
Aula 18 : Conclusões Finais
É com bastante satisfação
que chegamos ao final das aulas sobre Ciência & Espiritismo
em coincidência com o 13º Aniversário
do Boletim do GEAE. O leitor pode verificar que iniciamos
essas aulas justamente no Boletim de Aniversário de 12 anos,
encerrando, então, um ano de estudos.
Estamos concluindo o conjunto de
aulas sobre Ciência e Espiritismo mas jamais consideraremos
o assunto como estando encerrado. A Ciência tem uma característica
muito positiva que é o caráter progressivo. Ela evolui
com o progresso dos Homens e isso, naturalmente, se extende ao conteúdo
que intentamos introduzir com essas aulas. Vamos brevemente rever
o que estudamos ao longo desse ano.
Essas aulas sobre Ciência
e Espiritismo tiveram dois objetivos fundamentais:
1) introduzir os leitores às formas, objetos, métodos
e rigores do trabalho de pesquisa nos meios acadêmicos; e
2) exemplificar como utilizar isso no desenvolvimento dos
estudos e atividades de pesquisa espíritas.
Não tivemos a intenção de supervalorizar o
aspecto científico do Espiritismo em detrimento dos outros.
É preciso lembrar (e repetir) que o Movimento Espírita
não é um movimento puramente científico ou
acadêmico onde devemos apenas trabalhar de acordo com os métodos
científicos ou de acordo com os procedimentos acadêmicos.
Em seu Editorial do Boletim número 491, Carlos Iglesia
expõe de modo muito lúcido que “O Espiritismo
é muito mais que uma ciência, pois almeja além
do saber, a interiorização do saber. É mais
que uma filosofia, pois além de questionar a vida, almeja
transformar para melhor a própria vida, é mais que
uma religião, pois além de estabelecer uma ligação
do ser com o criador, almeja elevar o ser até o criador.”
Às vezes, ocorre que companheiros
muito bem intencionados, motivados pelo estudo e progresso da Ciência
e dos meios de comunicação (como a internet), se entusiasmam
após a primeira leitura de trabalhos espíritas de
valor científico e desejam contribuir com a divulgação
do Espiritismo aproveitando essas ferramentas de progresso.
No entanto, precisamos ter a consciência
de que cada ferramenta tem funções e características
bem definidas e o equilíbrio (mental e emocional) é
necessário para não deixarmos o nosso entusiasmo extrapolar
as mesmas para situações onde, a rigor, elas não
se aplicam. A Ciência deve, portanto, ser vista como uma valiosa
ferramenta de progresso e como tal precisa ser conhecida e estudada
por aqueles que se interessam por ela. Estes deverão treinar
o uso correto da mesma para que a empreguem com sabedoria. Devemos
estar vigilantes e atentos aos convites ao menor esforço
que, neste campo em particular, sugerem que a Ciência está
prejudicada, enferrujada, totalmente incapaz de ajudar o Homem em
seu caminho evolutivo. Muitas vezes nos esquecemos que é
a criatura que externa seus conflitos no uso inadequado das ferramentas
que a bondade divina lhe emprestou para progredir. Qualquer expressão
de materialismo por parte dos cientistas reflete pura e simplesmente
o sentimento deles como espíritos em trânsito para
o progresso espiritual. Assim, lembrando das palavras de Jesus “Dai
a César o que é de César e a Deus o que é
de Deus” (Mt 22,21), busquemos desenvolver maior responsabilidade
em nossos propósitos de contribuir com o progresso dos conhecimentos
espíritas usando a ferramenta da Ciência.
Esses comentários objetivam
a nossa concientização de que o Movimento Espírita
possui muitas atividades diferentes e que TODAS ELAS
são de grande valor dentro do objetivo maior de divulgação
da Doutrina Espírita. Todos os aspectos doutrinários
(filosófico, científico e religioso) são de
enorme valia no progresso das pessoas e, convenhamos, se algum deles
não fosse útil, os Espíritos Superiores teriam
orientado Kardec nesse ponto. As pessoas são muito diferentes,
com experiências e bagagens espirituais diferentes. Umas se
sensibilizam mais com o aspecto religioso e por isso esse aspecto
as iniciará no Movimento Espírita. Outros se afinizam
pelo aspecto filosófico ou científico e naturalmente
se interessarão por esses aspectos dentro do Espiritismo.
Nosso cuidado deve ser em não transmitir valores em desacordo
com a mensagem espírita-cristã em nome de atrair,
satisfazer e manter as pessoas que se interessam por esse ou aquele
aspecto doutrinário. Sabemos, por exemplo, que não
se deve adotar imagens de santos, ornamentos, estátuas e
outros objetos com intento de ressaltar o aspecto religioso do Espiritismo.
Mas sabemos da enorme importância da existência das
reuniões de estudo do Evangelho Segundo o Espiritismo que
mostra que os ensinamentos da Doutrina Espírita revivem justamente
os ensinamentos cristãos.
Da mesma forma, com relação
ao aspecto científico, nossa atitude deve ser totalmente
consistente tanto com o que conhecemos por Ciência quanto
com a mensagem espírita. Kardec, no período em que
trabalhou na codificação, demonstrou enorme senso
científico, muito além do seu tempo. Ele buscou aliar
seus conhecimentos e experiências como educador e cientista
à descoberta do fenômeno espírita, jamais propondo
idéias que ele não pudesse demonstrar através
dos fatos e agregar, dessa forma, o devido valor.
Nossa intenção foi
trazer ao leitor amigo e interessado as idéias de rigor e
trabalho que ocorrem nos meios acadêmicos da atualidade de
modo a mostrar a necessidade e a importância do esforço
no estudo para a aquisição do conhecimento sólido
que serve de base para o progresso. Talvez a palavra esforço
cause estranheza mas basta lembrarmos, por exemplo, das obras de
André Luiz. A palavra esforço é
usada muitíssimas vezes para refletir a necessidade de vigilância
de cada individualidade na aquisição dos valores morais
que o levarão aos grandes vôos da imortalidade. Diversas
narrativas de André Luiz existem sobre as palestras ministradas
por Espíritos já bastante elevados. Segundo André
Luiz, em tais eventos a oportunidade da pergunta não é
dada a todos os que assistem a palestra. Geralmente, somente aqueles
que tem maior experiência no assunto da palestra possuem o
direito de interpelar os bondosos instrutores da vida maior. Isso
sugere a nós outros que a desencarnação não
é nem porta de acesso à felicidade absoluta nem torna
os Espíritos conhecedores de tudo. As palavras de Jesus “a
cada um segundo a suas obras” (Mt 16,27) são batante
claras: ninguém almejará colher um grão sequer
sem o esforço da plantação. Da mesma forma,
o aspecto científico do Espiritismo exige o esforço
paciente e constante de todos nós que nos afinizamos com
ele. Todos sonhamos com o dia em que a sociedade reconhecerá
o Espiritismo e alguns companheiros valorosos, como Hermínio
de Miranda, expõem a opinião de que “Temos
que reconhecer - não sem certa dose de humildade cristã
- que não basta nossa crença inabalável nos
fenômenos demonstrados, para torná-los aceitáveis
aos outros. É preciso, para vencer a resistência da
idéia preconcebida ou da mera preguiça humana de pensar,
não apenas a nossa convicção de mais de um
século, mas o pronunciamento oficial da Ciência, que,
para muitos de nossos irmãos, será a palavra final
sobre o assunto” [1]. E
podemos ter certeza de que não adianta apenas fazer afirmativas
de que “a Ciência está comprovando o Espiritismo”
que vamos satisfazer aos critérios que a crítica apresenta.
Não podíamos nos esquecer
ainda de citar o Codificador sobre esta questão do esforço
e da paciência. No ítem XIII da Introdução
de O Livro dos Espíritos, Kardec diz:
“Anos
são precisos para forma-se um médico medíocre
e três quartas partes da vida para chegar-se
a ser um sábio. Como pretender-se em algumas horas
adquirir a Ciência do Infinito? Ninguém, pois,
se iluda: o estudo do Espiritismo é imenso; interessa a todas
as questões da metafísica e da ordem social; é
um mundo que se abre diante de nós. Será de
admirar que o efetuá-lo demande tempo, muito tempo mesmo?”
(Grifos nossos).
Iniciamos as aulas falando sobre
as características que determinam se um capo de estudo pode
ou não ser chamado de científico à luz da Filosofia
da Ciência. Graças ao esforço do Prof.
Silvio S. Chibeni, podemos dizer com toda a certeza
que o Espiritismo possui todos os ingredientes de qualquer disciplina
científica. Em seguida, iniciamos a falar da Ciência
Espírita, propriamente dita, onde os assuntos a serem pesquisados
não envolvem nenhum conceito ou fenômeno de outra ciência.
Falamos sobre a divulgação dos trabalhos científicos,
a forma pela qual os artigos são feitos e avaliados e sua
importância no processo de desenvolvimento da disciplina em
questão. Falamos sobre os assuntos de interesse espírita
que envolvem outras disciplinas científicas como a Medicina,
a Matemática e a Física. Neste último caso,
nos detivemos em analisar algumas afirmativas trazendo um exemplo
de crítica que normalmente ocorre na atividade cotidiana
do cientista profissional. Vimos que a Medicina é uma das
Ciências que mais abrem espaço para introdução
dos conceitos espíritas e evangélicos. Vimos, também,
através de alguns exemplos de nossa autoria, que algumas
áreas mais abstratas como a Matemática podem contribuir
com resultados de interesse ao espiritualista em geral. Discutimos
a diferença de valores científicos entre os diversos
tipos de livros, os diversos tipos de artigos e a diferença
entre livros e artigos. Expusemos nosso ponto de vista sobre a relação
entre a Universidade e o Espiritismo bem como analisamos a idéia
de uma universidade espírita. Introduzimos o leitor à
idéia de projeto de pesquisa apresentando um exemplo espírita
para futuras consultas. Falamos da importância não
só do estudo em qualquer trabalho de pesquisa, mas também
da orientação nesse processo, especialmente no caso
de iniciantes. Encerramos as aulas falando do local de trabalho
do pesquisador espírita figurando o laboratório
de pesquisa de acordo com o gênero de pesquisa a
ser realizada.
Entretanto, teríamos ainda
muito a dizer bem com ainda muito a ouvir de outros irmãos
espíritas que trabalham em outras áreas da ciência,
e mesmo dos espíritas que nada conhecem do meio acadêmico.
Porém, podemos dizer que a intenção de fomentar
o diálogo aberto, franco e fraterno sobre o assunto, foi
atingido de forma satisfatória.
Uma idéia está subjacente
ao nosso interesse com essas aulas sobre Ciência & Espiritismo
e que merece vir à tona. Não há necessidade
de que uma pessoa se torne cientista profissional para contribuir
cientificamente com o progresso do conhecimento espírita.
Basta que aprendamos com as pessoas que militam no meio acadêmico
os ingredientes mínimos para a realização de
um bom trabalho de pesquisa. Podemos dizer que ao contrário
do que se possa imaginar, isso não requer de nós mais
do que já temos. Basicamente, isso requer um pouco do nosso
esforço, de nossa capacidade de estudar, de nosso tempo disponível.
E, acima de tudo, isso requer de nós a paciência de
seguir um passo após o outro, e a humildade para recebermos,
analisarmos e aceitarmos as críticas ao nosso trabalho. Na
medida em que as pessoas aprenderem como se realiza um trabalho
sério de pesquisa, mais e mais os Espíritos superiores
encontrarão terreno fértil para sugerir idéias
que ajudarão o progresso do entendimento espírita.
As instituições, federações
e órgãos de unificação espíritas
devem, tanto quanto possível, apoiar a iniciativa em atividades
de pesquisa. Especial atenção deve ser dada aos jovens
e iniciantes na atividade de pesquisa espírita. Em nossa
opinião, o Movimento Espírita já está
maduro para a realização de trabalhos de pesquisa
cada vez mais sérios e tão organizados quanto os de
outros setores da sociedade ou de outras disciplinas acadêmicas.
Eu gostaria finalizar manifestando
meu agradecimento especial aos membros do Conselho Editorial do
GEAE pela idéia, oportunidade e apoio ao longo deste um ano
de estudos. Agradecemos também aos bons Espíritos
por toda ajuda invisível e pelas idéias inspiradas
ao longo deste trabalho. Por fim, pedimos a Deus que nos fortaleça
e ilumine em nossos propósitos de evolução
em todos os aspectos. Que nos unamos cada vez mais para a realização
de estudos e trabalhos que divulguem a Doutrina Espírita
e nos elevem um pouco mais para junto do Criador.