Um pesquisador japonês, Dr. Masaru Emoto, afirma ter provado
que pensamentos e sentimentos interferem na realidade física.
Ele diz que a estrutura cristalina da água é afetada
pela “energia de vibração” de pensamentos,
atos, e até mesmo de palavras e músicas
[1,2].
Segundo Kardec (em
nota de rodapé relativa à resposta dos espíritos
à questão número 33 de O Livro dos Espíritos
[3]), uma ação magnética dirigida pela
vontade faz com que uma determinada porção de água
se torne fluidificada. Nesse processo, a água adquire propriedades
diferentes das que possui em seu estado normal, chegando ao ponto
de servir como medicamento no tratamento de várias enfermidades.
Portanto, não está em questão a nossa certeza,
como espíritas, de que a água absorve os fluidos espirituais
ambientes ou direcionados a ela. Questionamos a afirmativa de que
“o fenômeno de absorção de fluidos pela
água foi provado cientificamente”. Isso não
corresponde à verdade conforme veremos adiante. Os seus defensores
baseiam-se no trabalho de pesquisa do Dr. Masaru Emoto [1]
que tem chamado a atenção de muitos irmãos
nossos, no movimento espírita, chegando a ter destaque na
“homepage” de grupos espíritas de grande prestígio.
Segundo Emoto [1],
ao emitirmos pensamentos e sentimentos para uma amostra de água;
ao submetermos uma porção de água a um tipo
de vibração sonora ou música; ou, ainda, se
uma etiqueta com uma determinada palavra for colada num frasco contendo
água, então ela absorverá um tipo de “energia”
associada ao valor, moral, do pensamento, som ou palavra que foi
submetida a ela. Isso seria verificado através do processo
de cristalização onde as moléculas de água,
ao passarem do estado líquido para o estado sólido,
formam estruturas tridimensionais bem definidas, como na formação
dos minúsculos flocos de neve. Assim, amostras submetidas
a pensamentos, sons ou palavras harmoniosas, formam figuras cristalinas
simétricas e muito bonitas (veja “homepage” da
referência [2]). Em caso contrário,
obtém-se formas amorfas, sem nenhuma regularidade, possuindo
um aspecto desagradável ao olhar [2].
Não somos nós os únicos
a questionar a cientificidade dessa pesquisa. Citamos uma referência
que critica esse resultados. Se trata de uma “homepage”
intitulada “Lendas e Pseudociência” [4].
Os seus autores afirmam que “os experimentos do Dr. Emoto
não tem respaldo na ciência nem na racionalidade, mas
no misticismo. Eles pertencem àquilo que se chama de pseudociência
ou não-ciência.” Em outras palavras, isso quer
dizer que a pesquisa do Dr. Emoto não satisfaz os caracteres
de universalidade e reprodutibilidade comuns aos fenômenos
científicos. Além disso, eles alertam que algumas
pessoas, mal informadas, podem ser induzidas a “rotular, com
palavras amáveis, água de má qualidade e passar
a usá-la na cozinha, para beber ...” [4].
Apesar do Dr. Emoto não sugerir essa aplicação,
não há como garantir que isso não possa ocorrer.
Para que não fique dúvida
sobre a precipitação em considerar cientificamente
divulgado e comprovado os resultados do Dr. Emoto, enviamos-lhe
um e-mail perguntando se foi publicado algum artigo científico,
sobre o assunto, em revista científica internacional. Sua
secretária respondeu ao nosso e-mail de forma muito amável
e respeitosa, concordando sobre a importância de uma publicação
realmente científica e afirmou que, de fato, o Dr. Emoto
ainda não houvera feito uma tal publicação.
Por essa razão, não podemos considerar que os resultados
sobre a relação entre os cristais de água e
os sentimentos e pensamentos foram comprovados cientificamente.
De modo a esclarecer o leitor leigo
em ciência, uma pesquisa que envolva assunto ligado a qualquer
disciplina científica só pode ser considerada como
cientificamente comprovada quando a comunidade científica
tiver reproduzido a experiência, obtendo os mesmos resultados,
e analisado, de forma crítica, todos os métodos e
argumentos utilizados. Para isso, tais resultados precisam ser publicados
nos periódicos científicos para que a comunidade científica
tome conhecimento deles e possa lê-los, avaliá-los
e reproduzí-los, de acordo com o método científico.
Além disso, antes de ser publicado em uma revista científica,
um artigo passa pela análise de um parecerista que faz uma
primeira análise crítica. É por essa razão
que uma publicação em revista científica é
considerada um verdadeiro primeiro passo para obter-se uma comprovação
científica de qualquer pesquisa*.
Uma outra ordem de argumentos cabe
aqui. Podemos e devemos aplicar o critério do bom-senso aos
resultados das pesquisas sobre a água. Sabemos, como espíritas,
que a água absorve fluidos espirituais. Mas como uma palavra,
escrita em um rótulo, transferiria fluidos para a água
dentro do frasco? Imaginem o seguinte exemplo: considere a palavra
MORTE. Para alguns ela é algo terrível, que produz
sentimentos de medo, insufla idéias de horror, etc.
Em certas culturas, porém,
a palavra MORTE tem outro significado. Ela significa libertação,
volta para “casa” e, de fato, com o Espiritismo, entendemos
que a morte é a libertação do Espírito
dos laços materiais; a morte é o retorno à
Pátria Espiritual; o reencontro com os entes queridos.
Considere, também, o exemplo
do nome HITLER(utilizado por Emoto [1]).
Para a maioria das pessoas, esse nome lembra os atos terríveis
praticados contra seres humanos. Porém, existem várias
pessoas, hoje, que têm a palavra Hitler como nome ou sobrenome
e, nem por isso, elas são ruins. Neste ponto, vemos que está
ocorrendo uma inversão de valores: a forma está sendo
tomada pelo fundo; o efeito pela causa. Isto pois, as características
de uma pessoa não são determinadas pelo nome que ela
recebe ao nascer e, sim, pelas virtudes e imperfeições
que o seu Espírito tenha, isto é, seu estado evolutivo.
Assim, é bem possível que exista uma pessoa de nome
Hitler que seja bondosa, amada e querida por familiares e amigos.
Portanto, o nome HITLER escrito no rótulo de uma amostra
de água não terá efeito sobre a sua cristalização
porque esse conjunto de letras não tem valor se uma mente
não lê-las. Uma “vibração”
só existirá quando uma pessoa interpretar a palavra
e “vibrar” de acordo com os sentimentos dessa interpretação.
Se a mãe de um jovem chamado Hitler ler o nome HITLER, não
há dúvidas de que ela vai vibrar amor. Assim, a conclusão
de que uma palavra estampada num rótulo tem o poder de influenciar
as moléculas de água é ilógica segundo
os princípios espíritas e isso pode ser usado pela
crítica.
Em conclusão, a afirmativa
de que os sentimentos e pensamentos (“vibrações”)
afetam a estrutura cristalina da água não pode ser
considerada como cientificamente comprovada a partir, apenas, dos
livros do Dr. Emoto. Isso não significa que a água
não possa absorver fluidos espirituais. Apenas não
se pode considerar que a Ciência comprovou o fenômeno.
O movimento espírita deve, portanto, receber essas notícias
com bastante prevenção e prudência. Respeitamos
essas pesquisas e quem as divulga mas aguardamos maiores comprovações
antes de sairmos por aí anunciando os seus resultados. Quanto
ao Dr. Masaru Emoto, respeitamos seus nobres objetivos, principalmente
na área ecológica, em luta pela preservação
da água potável no planeta. Porém, suas pesquisas
precisam ser publicadas em revistas científicas para que
elas possam ser discutidas e reproduzidas pelos cientistas do mundo
inteiro e para que elas possam receber o respeito científico
que elas merecem.
Uma ressalva deve ser feita. Existem
outras pesquisas sobre os efeitos da fluidificação
da água sendo realizadas tanto no Brasil quanto no exterior.
Porém não temos notícias de publicações
em revistas científicas internacionais e indexadas. Existem
divulgações em “homepages”, como o artigo
da referência [5], que, infelizmente,
apesar de apresentar uma interessante metodologia, não pode
ser considerado como científicamente comprovado, pelas mesmas
razões acima expostas. Porém, pretendemos fazer uma
pesquisa mais ampla na literatura espírita e espiritualista
em busca de mais referências.
Por outro lado, existem pesquisas
puramente materiais muito interessantes sobre a água [6].
Quem quer que deseje buscar comprovações científicas
para os efeitos fluidicos e espirituais sobre a água deve
levar em conta os trabalhos de pesquisa como os das referências
[5,6] como fonte de informação
e sugestão de modelo de trabalho.
Nunca é demais repetir as
palavras do espírito de Erasto (Revista Espírita [7]):
é preferível “rejeitar 10 verdades do que aceitar
uma só mentira”. Notem que é muito mais difícil
corrigir uma mentira depois de aceita do que vir a aceitar uma verdade
previamente negada.